COMO ENSINAR A LER?
LEITURA ORAL
E MEMÓRIA
O trabalho de aprendizagem da leitura através de
textos provocará inúmeras atividades de expressão oral e, portanto de audição.
As atividades criadoras, parte integrante dos passos básicos da aula de
leitura, são todas situações que irão influir, direta ou indiretamente, no
campo da expressão oral.
As histórias, os poemas, as dramatizações serão fontes de enriquecimento
de idéias, do vocabulário e de percepção de relações, além do estímulo da
imaginação e da emoção. Destas atividades surgirão as composições das crianças
que serão registradas pelo professor.
Quantas crianças que,
depois da interpretação livre de uma música, dançam e expressam verdadeiras composições criadoras,
verbalizando as emoções sentidas e deixando falar a sua imaginação?
E quantas que, não dominando a palavra, falam por meio dos dedos, no contato
com a argila, ou no contato com a tinta na pintura? E estas mesmas crianças
depois de se expressarem concretamente, são às vezes capazes de verbalizar o
que fizeram.
Daí verifica-se a relação
da dança, da pintura, dos recortes e da modelagem com a expressão
oral.
Por isso, segundo Ieda Dias,
"a interpretação da gravura permite a criança deixar a experiência
concreta e entrar no campo da simbolização - visualização da experiência,
pelo desenho, e colocação dessa experiência colocando em palavras (linguagem
oral)".
Ela verbaliza a
experiência colocando em palavras as várias relações existentes entre as
personagens, os objetos ou fatos. A percepção e compreensão das
relações na interpretação da ilustração preparam o aluno para
perceber e compreender a ação das personagens no texto.
"Interpretação da leitura
silenciosa - na leitura silenciosa o aluno entra em contato com o
símbolo escrito (lembre-se de que o símbolo escrito é representação do
símbolo oral que já é, por sua vez, representação da realidade - daí dizer-se
- que a leitura é abstração da abstração).
Ler, Falar e Ouvir
A leitura silenciosa
é um encontro interior profundo com a mensagem escrita. O leitor raciocina,
avalia, julga as idéias, aceitando-as ou rejeitando-as. É trabalho
intelectual e emocional.
A
leitura silenciosa visa, essencialmente, ao desenvolvimento das habilidades
intelectuais. Por isso mesmo, ela é dirigida por perguntas que apelam para os
diversos processos mentais. As perguntas variam conforme a natureza e
as possibilidades do texto. “Há textos que favorecem á análise da causa e
efeito, outras a exploração de detalhes, outros a apreciação de
atitudes ou julgamentos etc”.
"Interpretação pela
leitura oral - a leitura oral é o coroamento do trabalho da
interpretação. O trabalho anterior, da interpretação da gravura e da leitura
silenciosa, prepara o aluno para expressar em voz alta, com cadência e ritmos adequados
as experiências transmitidas das pela leitura (a fluência e expressão estarão
condicionados a automatismos, tais como: boa pronúncia, articulação
correta, pausa ritmos a que serão adquiridos com exercícios para tal
fim)".
A direção da interpretação da gravura será feita
por meio de perguntas que ajudarão o aluno a perceber:
·
Relações de
distâncias, posição e tamanho entre personagens e objetos, que revelam
sentimentos entre os mesmos;
·
Sentimentos,
emoções, reações pela expressão facial e movimentos corporais;
·
O tipo de ambiente
pelos objetos, vegetação ou outros elementos;
·
Tempo, hora em que
se passa a cena pela análise de relações de diversos elementos;
·
A influência das
cores e do ritmo (pelos traços) na criação de suspense, humor e ação.
As perguntas deverão ser feitas de tal forma que
sugiram respostas, mas levam o aluno a pensar, a refletir. Uma resposta
descuidada será sempre seguida de outra pergunta que exija reflexão. E sempre o
professor deverá fazer perguntas completas e exigir respostas completas também.
Isto constituirá um exercício de fixação das expressões e palavras estudadas, respondendo
às questões do método científico: o que? Como? Quem? Quando? Por quê? Para que?
Com quem? Com que? Etc.
Observe-se que esta direção de aprendizagem será
difícil e até impossível na soletração (que predomina no momento) ou na
silabação e também no método fônico, todos preocupados com a correspondência
grafema - fonema e, não, com o significado das palavras e frases.
Ora, estas mesmas crianças, depois de se
expressarem "concretamente", são estimuladas a verbalizar o que
fizeram, realizando um incipiente metacognição, ou seja, um pensar sobre o que
se faz. Neste aspecto a criança estará passando do dialogo interior que
geralmente acompanha as ações na fase pré-operatória (segundo Piaget), para a
organização lógica do pensamento e a formação dos conceitos básicos. Aí
estão as várias técnicas de se apresentar o vocabulário e a exploração da
leitura e das histórias sempre dentro da sequência lógica dos fatos (princípio,
meio e fim) constituindo uma totalidade em que toda palavra deverá estar dentro
de estruturas e de situações significativas.
Use
sempre a pantomima, as situações concretas, as histórias, o objeto ou a
gravura para que a palavra passe pelos sentidos. Diz Mauree Applegate,
que as palavras precisam ser ouvidas, cheiradas, olhadas, experimentadas
para que sejam apreendidas. Em outras palavras Applegate nos mostra a
importância das percepções sensoriais na aquisição do vocabulário.
Ler e Escrever
Leitura e linguagem escrita aparecem ao mesmo
tempo. A afirmação feita anteriormente de que a criança caminha mais devagar na
aquisição da escrita, foi no sentido do uso deste instrumento pelo aluno. Desde
o período de prontidão - a preparação psicomotora da alfabetização - quando o
professor escreve o nome do aluno no quadro, ele está usando a linguagem
escrita e a leitura. Quando o professor elabora legenda e avisos para os
diversos "cantinhos e objetos da sala" e a criança curiosa lhe
pergunta: "O que mesmo está escrito aqui? E o professor lhe diz, ela vai
relacionando palavras com sua imagem escrita. Ela vai percebendo que a escrita
é uma forma de falar, de comunicar idéias e que a leitura é outra forma de
receber, de compreender o que alguém escreveu. Desta forma a leitura e a
linguagem escrita aparecem juntas como consequência de um programa rico de
situações naturais de comunicação. E desta forma, as crianças irão perceber o
real sentido de ler e do escrever.
A criança observa, convive com a escrita, mas não
faz uso dela, ainda. Vai usar a linguagem escrita mais tarde, porque o seu uso
exige outros instrumentos:
A Escrita: (traçado
ou desenho das letras que pressupõem desenvolvimento viso-motor, e a
coordenação motora fina / imobilidade corporal), além da lateralidade.
A Ortografia: (escolha certa da letra para representar
determinado som, o que pressupõe relações áudio-viso-motoras; realizadas
nos exercícios de ortografia, criticados pelo "construtivismo" mas
essenciais na aquisição dos automatismos básicos da escrita. Esses
"treinos" devem ser realizados sempre a partir de estruturas, com
estudo para identificação e fixação progressiva das palavras - chave. Esse é um
trabalho metodológico imprescindível que não é compatível com o
"construtivismo" e com o letramento do modo como é entendido.
Assim, nessas décadas de
"desmetodização" (quando os métodos de alfabetização foram abolidos), os professores não sabem como ensinar a ler e
escrever, porque não há uma orientação metodológica para isso, pois que é
considerada retrógrada e desnecessária.
No nosso entender, aí está a causa de os
alunos escreverem como falam, sem regra ou qualquer referência nos automatismos
da Língua Portuguesa. Entretanto, é isto que a criança e o adolescente têm o
direito de dominar: o conhecimento e uso da língua materna, na sua modalidade
culta, com competência, correção e beleza.
Quando os parâmetros de correção do ENEM são
rebaixados e predomina a avaliação qualitativa em todos os níveis de ensino,
provavelmente isto ocorre pelo lamentável empobrecimento no ensino da língua e
a falta do conhecimento e uso das regras, necessários em qualquer idioma. Eis
aqui a fábrica dos analfabetos funcionais - os que não sabem escrever um
pequeno texto nem interpretá-lo ou transmiti-lo a outros embora muitos já sejam diplomados!
A Gramática: esta será dada pelo convívio das estruturas
da língua, nas diversas situações, especialmente no material de leitura na
organização lógica do pensamento. As respostas dos alunos na
exploração das gravuras, nas vivências da leitura silenciosa ou oral são
oportunidades para expressão correta do pensamento, com frases completas e com
sentido.
O domínio básico da gramática significará aquisição efetiva
dos automatismos da língua que deverão ser ampliados na pós alfabetização;
aperfeiçoados e aprofundados nas demais séries do Ensino Básico.
Eis, o que precisa acontecer, segundo o Programa
de alfabetização na Idade Certa (PRONAIC) para que o país se
desenvolva com uma Educação de qualidade... Uma meta difícil numa alfabetização
sem método e sem caminho.
O que fazer?
Organização Maria de Lourdes Fioravante (Pitucha)
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