domingo, 2 de junho de 2013

COMO ENSINAR A LER?

COMO ENSINAR A LER?  

LEITURA ORAL E MEMÓRIA

    O trabalho de aprendizagem da leitura através de textos provocará inúmeras atividades de expressão oral e, portanto de audição. As atividades criadoras, parte integrante dos passos básicos da aula de leitura, são todas situações que irão influir, direta ou indiretamente, no campo da expressão oral.
As histórias, os poemas, as dramatizações serão fontes de enriquecimento de idéias, do vocabulário e de percepção de relações, além do estímulo da imaginação e da emoção. Destas atividades surgirão as composições das crianças que serão registradas pelo professor.
Quantas crianças que, depois da interpretação livre de uma música, dançam e expressam verdadeiras composições criadoras, verbalizando as emoções sentidas e deixando falar  a sua imaginação? E quantas que, não dominando a palavra, falam por meio dos dedos, no contato com a argila, ou no contato com a tinta na pintura? E estas mesmas crianças depois de se expressarem concretamente, são às vezes capazes de verbalizar o que fizeram.
Daí verifica-se a relação da dança, da pintura, dos recortes e da modelagem com a expressão oral.    
Por isso, segundo Ieda Dias, "a interpretação da gravura permite a criança deixar a experiência concreta e entrar no campo da simbolização - visualização da experiência, pelo desenho, e colocação dessa experiência colocando em palavras (linguagem oral)".
Ela verbaliza a experiência colocando em palavras as várias relações existentes entre as personagens, os objetos ou fatos. A percepção e compreensão das relações na interpretação da ilustração preparam o aluno para perceber e compreender a ação das personagens no texto.
            "Interpretação da leitura silenciosa - na  leitura silenciosa o aluno entra em contato com o símbolo escrito (lembre-se de que o símbolo escrito é representação do símbolo oral que já é, por sua vez, representação da realidade - daí dizer-se - que a leitura é abstração da abstração).
Ler, Falar e Ouvir
         A leitura silenciosa é um encontro interior profundo com a mensagem escrita. O leitor raciocina, avalia, julga as idéias, aceitando-as ou rejeitando-as. É trabalho intelectual e emocional.
         A leitura silenciosa visa, essencialmente, ao desenvolvimento das habilidades intelectuais. Por isso mesmo, ela é dirigida por perguntas que apelam para os diversos processos mentais. As perguntas variam conforme a natureza e as possibilidades do texto. “Há textos que favorecem á análise da causa e efeito, outras a exploração de detalhes, outros a apreciação de atitudes  ou julgamentos etc”.
            "Interpretação pela leitura oral -  a leitura oral  é o coroamento do trabalho da interpretação. O trabalho anterior, da interpretação da gravura e da leitura silenciosa, prepara o aluno para expressar em voz alta, com cadência e ritmos adequados as experiências transmitidas das pela leitura (a fluência e expressão estarão condicionados a automatismos, tais como: boa pronúncia, articulação correta, pausa ritmos a que serão adquiridos com exercícios para tal fim)".
A direção da interpretação da gravura será feita por meio de perguntas que ajudarão o aluno a perceber: 
·         Relações de distâncias, posição e tamanho entre personagens e objetos, que revelam sentimentos entre os mesmos;
·         Sentimentos, emoções, reações pela expressão facial e movimentos corporais;
·         O tipo de ambiente pelos objetos, vegetação ou outros elementos;
·         Tempo, hora em que se passa a cena pela análise de relações de diversos elementos;
·         A influência das cores e do ritmo (pelos traços) na criação de suspense, humor e ação.
As perguntas deverão ser feitas de tal forma que sugiram respostas, mas levam o aluno a pensar, a refletir. Uma resposta descuidada será sempre seguida de outra pergunta que exija reflexão. E sempre o professor deverá fazer perguntas completas e exigir respostas completas também. Isto constituirá um exercício de fixação das expressões e palavras estudadas, respondendo às questões do método científico: o que? Como? Quem? Quando? Por quê? Para que? Com quem? Com que? Etc. 
Observe-se que esta direção de aprendizagem será difícil e até impossível na soletração (que predomina no momento) ou na silabação e também no método fônico, todos preocupados com a correspondência grafema - fonema e, não, com o significado das palavras e frases. 
Ora, estas mesmas crianças, depois de se expressarem "concretamente", são estimuladas a verbalizar o que fizeram, realizando um incipiente metacognição, ou seja, um pensar sobre o que se faz. Neste aspecto a criança estará passando do dialogo interior que geralmente acompanha as ações na fase pré-operatória (segundo Piaget), para a organização lógica do pensamento e a formação dos conceitos básicos. Aí estão as várias técnicas de se apresentar o vocabulário e a exploração da leitura e das histórias sempre dentro da sequência lógica dos fatos (princípio, meio e fim) constituindo uma totalidade em que toda palavra deverá estar dentro de estruturas e de situações significativas.
            Use sempre a pantomima, as situações concretas, as histórias, o objeto ou a gravura para que a palavra passe pelos sentidos. Diz Mauree Applegate, que as palavras precisam ser ouvidas, cheiradas, olhadas, experimentadas para que sejam apreendidas. Em outras palavras Applegate nos mostra a importância das percepções sensoriais na aquisição do vocabulário.
Ler e Escrever
Leitura e linguagem escrita aparecem ao mesmo tempo. A afirmação feita anteriormente de que a criança caminha mais devagar na aquisição da escrita, foi no sentido do uso deste instrumento pelo aluno. Desde o período de prontidão - a preparação psicomotora da alfabetização - quando o professor escreve o nome do aluno no quadro, ele está usando a linguagem escrita e a leitura. Quando o professor elabora legenda e avisos para os diversos "cantinhos e objetos da sala" e a criança curiosa lhe pergunta: "O que mesmo está escrito aqui? E o professor lhe diz, ela vai relacionando palavras com sua imagem escrita. Ela vai percebendo que a escrita é uma forma de falar, de comunicar idéias e que a leitura é outra forma de receber, de compreender o que alguém escreveu. Desta forma a leitura e a linguagem escrita aparecem juntas como consequência de um programa rico de situações naturais de comunicação. E desta forma, as crianças irão perceber o real sentido de ler e do escrever.
A criança observa, convive com a escrita, mas não faz uso dela, ainda. Vai usar a linguagem escrita mais tarde, porque o seu uso exige outros instrumentos: 
A Escrita: (traçado ou desenho das letras que pressupõem desenvolvimento viso-motor, e a coordenação motora fina / imobilidade corporal), além da lateralidade.
A Ortografia: (escolha certa da letra para representar determinado som, o que pressupõe relações áudio-viso-motoras; realizadas nos exercícios de ortografia, criticados pelo "construtivismo" mas essenciais na aquisição dos automatismos básicos da escrita. Esses "treinos" devem ser realizados sempre a partir de estruturas, com estudo para identificação e fixação progressiva das palavras - chave. Esse é um trabalho metodológico imprescindível que não é compatível com o "construtivismo" e com o letramento do modo como é entendido.
Assim, nessas décadas de "desmetodização" (quando os métodos de alfabetização foram abolidos), os professores não sabem como ensinar a ler e escrever, porque não há uma orientação metodológica para isso, pois que é considerada retrógrada e desnecessária.
 No nosso entender, aí está a causa de os alunos escreverem como falam, sem regra ou qualquer referência nos automatismos da Língua Portuguesa. Entretanto, é isto que a criança e o adolescente têm o direito de dominar: o conhecimento e uso da língua materna, na sua modalidade culta, com competência, correção e beleza.
Quando os parâmetros de correção do ENEM são rebaixados e predomina a avaliação qualitativa em todos os níveis de ensino, provavelmente isto ocorre pelo lamentável empobrecimento no ensino da língua e a falta do conhecimento e uso das regras, necessários em qualquer idioma. Eis aqui a fábrica dos analfabetos funcionais - os que não sabem escrever um pequeno texto nem interpretá-lo ou transmiti-lo a outros embora muitos já sejam diplomados! 
A Gramática: esta será dada pelo convívio das estruturas da língua, nas diversas situações, especialmente no material de leitura na organização lógica do pensamento. As respostas dos alunos na exploração das gravuras, nas vivências da leitura silenciosa ou oral são oportunidades para expressão correta do pensamento, com frases completas e com sentido. 
O domínio básico da gramática significará aquisição efetiva dos automatismos da língua que deverão ser ampliados na pós alfabetização;  aperfeiçoados e aprofundados nas demais séries do Ensino Básico. 
Eis, o que precisa acontecer, segundo o Programa  de alfabetização na   Idade Certa (PRONAIC) para que o país se desenvolva com uma Educação de qualidade... Uma meta difícil numa alfabetização sem método e sem caminho.
O que fazer?    
                                                                   Organização Maria de Lourdes Fioravante (Pitucha)

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