CÉREBRO LINGUAGEM E PENSAMENTO
Conforme
as técnicas de imageamento do cérebro, provavelmente o pensamento e a linguagem
se formam e se desenvolvem pela articulação complexa e ainda pouco conhecida
das áreas do cérebro. Ora, a aprendizagem da língua depende de diversas
áreas/funções do cérebro, cuja a articulação resulta na organização
lógica do pensamento. Daí, quanto melhor a aprendizagem da língua, maior
riqueza vocabular e conceitual, maior o desenvolvimento cognitivo, maior
aprendizagem. Por isso, a menos que haja lesões incapacitantes, todo ser humano
tem estruturas neuronais , áreas do cérebro que coordenam, integram, compensam,
combinam, guardam, e/ou excluem progressivamente várias redes de percepção,
reação, ação com maior ou menor significado.
De acordo
com os avanços da neurociência, desenvolvimento humano não é um processo linear
nem uniforme. As contradições, diferenças e descompassos entre as diversas
áreas do cérebro, nos bilhões de neurônios e trilhões de conexões
que se estabelecem e se renovam sobretudo na infância e adolescência,
indicariam a educação como ferramenta poderosa no
desenvolvimento das relações entre pensamento e linguagem. Por isso, é preciso
que bases neuroquímicas da linguagem sejam discutidas e apropriadas por
educadores que ensinam a ler.
Segundo
DAMASIO, 2008, p.23: a aprendizagem da língua é um fenômeno complexo e se dá
por articulação de três grandes conjuntos das áreas do cérebro: 1º
conjunto (área associativa primária) sistema de percepções sensoriais
e motoras com maior ou menor representação do que vê, ouve, sente (verbal ou
não verbal) através da ativação dos neurônios-espelho,(imitação de gestos,
emoções e movimentos) e dos neurônios-grade (percepção de espaço e tempo;
localização, posição, direção, duração, etc. Então, é necessário repetição dos
estímulos e das situações para que haja discriminação e
reconhecimento, o que vai levar à internalização de conceitos , sua fixação e
aplicação pela aprendizagem).[1]
Este é o
trabalho essencial na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental
na educação dos sentidos. Associar um conceito à imagem, aos sons e
experiências positivas, leva à maior retenção (memória) e à generalização para
outros conceitos, produzindo mudanças químicas nas sinapses por seleção,
acolhimento e reconstrução das ,informações recebidas, através de estímulos e
interações ambientais. Isso significa que o cérebro e as suas áreas se alteram
quando aprendem algo, ou seja, quando a criança compreende e sabe fazer.
Esta aprendizagem
depende de diversas formas de estímulos (visual, auditivo, motor, etc.).
Qualquer aprendizagem dinamiza uma rede de neurônios em funções (linguagem,
audição, olfato, movimentos, etc.); que se integram em áreas (de associação e
interpretação) que produzem comportamentos; garantem a compreensão e,
conseqüentemente, a memorização e a aprendizagem. Isso jamais aconteceria no
ensino da língua pela soletração e pelo uso do alfabeto ou das silabas, ao
invés das palavras, frases e ações.
Segundo
Decroly, Piaget e outros, a educação das percepções se dá pela “leitura” do que
a criança observa, faz, fala e pensa, nos passeios, excursões, nas conversas,
jogos, etc.- ocasiões para desenvolver processos que ultrapassam a observação,
estabelecem relações, constatam sucessões, fazem comparações. Ou seja,
“estabelecem uma ponte entre o objeto ou o fenômeno observado e o
pensamento”( MACIEL,p.20). O
exercício de observação possibilita o desenvolvimento do vocabulário e da
percepção visual – elementos fundamentais na aprendizagem da leitura e da
escrita. Desde atividades mais lúdicas como jogo, teatro, a dança, a música, as
histórias até a produção mais abstrata de narrações, poesias, ensaios etc., as
relações e os significados é que são mais facilmente aprendidos, ou seja,
sempre é a compreensão do todo que garante a relação entre as partes. Isso é
feito no segundo conjunto:
2º-Áreas interpretativas: interpretam as
associações primárias e as expressam de diversos modos: linguagem oral,
leitura, ordenação das palavras, compreensão e reconhecimento das palavras,
regras gramaticais, estruturas, etc, de acordo com o significado para o
aprendiz, ou seja,o aspecto semântico da palavra, a experiência, a natureza da
informação desencadeia as demais funções de compreensão dos conceitos, leitura
e escrita das palavras e das regras gramaticais - a base da
organização lógica do pensamento(DAMASCENO, 2007).
3º- Áreas
interpretativas gerais:
coordenam os dois conjuntos e expressam corretamente as percepções; associações
e generalizações que vão levar à organização e confirmação de conceitos, das
regras, inferências, deduções, conclusões e hipóteses, de acordo com o nível de
desenvolvimento do aprendiz. Assim se estabelecem os processos mentais
superiores de compreensão, análise e avaliação, etc. – processos essenciais no
desenvolvimento do ser humano.
[1] A partir de 95 a
neurociência descobriu que os neurônios-espelho estão em todo cérebro e são
responsáveis pela aprendizagem e memórias dos atos de vida; da linguagem e
habilidades corporais principalmente pela imitação de modelos. Os
neurônios-grade, descobertos em 2005, permitem o mapeamento, localização
espacial e coordenação dos movimentos desde os primeiros anos de vida. A
ativação do conjunto neurônio-espelho e neurônio-grade estabelecem e aceleram o
processo de compreensão de movimentos, sentimentos e intenções (BINKOFOSKI,
2005,p.90)
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