PROCESSSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA

IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Em todas as culturas letradas, ler é uma vivência única para todo ser humano. Ao dominar a leitura, abrimos a possibilidade de adquirir conhecimentos, desenvolver raciocínios, participar ativamente da vida social, alargar a visão do mundo, do outro e de si mesmo.
Ora, é sobretudo  na escola que esse processo precisa ser didaticamente harmonioso e consistente: jamais a alfabetização pode ser um trabalho aleatório, formal e fragmentado de projetos; materiais e programas que acabam reduzindo a leitura à decodificação de letras e silabas. A leitura vai além do texto e começa antes mesmo do contato com ele (leitura de mundo). Ela se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto, seja ele escrito, sonoro, um gesto, uma imagem, um acontecimento. Ela está relacionada com o tempo, os espaços, as situações e ainda com a necessidade do leitor, com o prazer de suas descobertas, suas expectativas e vivências. É pela fala que a criança exprime e entende a sua ação e faz a leitura do mundo. “Conforme Vygotsky, na Formação Social da Mente, p. 35:” as crianças resolvem suas tarefas práticas com a ajuda da fala, assim como dos olhos e das mãos”.
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Desse modo, ela vai internalizando a unidade básica da língua (a palavra) e a ação, materializada na expressão oral ou escrita, organizando frases e sentidos desenvolvidos ao longo da fase escolar. Progressivamente, o aluno se apropria da língua para utilizá-la com correção, clareza e beleza. Daí, a importância da organização sistematizada de atividades da linguagem oral, nas situações reais de jogos, brinquedos e diálogos, onde a fala acompanha e, depois, precede a ação. Isto, segundo Vygotsky, é que produz a compreensão, o controle do comportamento, bem como o planejamento de ações futuras. Ou seja, o pensamento se desenvolve à medida que a sua expressão se amplia e vice-versa. Isto significa que segundo Piaget (Piaget, pag31) “ a lógica não é absolutamente inata na criança”. Ela é construída, à medida que amadurecem as estruturas cognitivas, desde pensamento sensório-motor e o intuitivo para chegar as operações concretas  e ao pensamento formal, conforme Lajunquière, pag31 a 38. Para isso é necessário um trabalho metódico e regular no uso da língua, em que a criança possa gradativamente perceber e reconstruir a relação entre o que faz, o que fala, o que vê e o que deseja que aconteça.
Como isso poderá acontecer , se predomina a soletração e o uso de grafemas e fonemas, sem o trabalho Ora, ensinar leitura não é ensinar fonologia, ou as regras de correspondência ortografia – som. “Juntar” as letras não é ler. Eis o comentário do professor Ezequiel Theodoro da Silva:
“Creio que “desler” é a prática de leitura mais frequente nas escolas brasileiras de hoje (...) a preocupação dos professores é a decifração de palavras e com a reprodução ou cópia de mensagens, e não com a produção de sentidos para os textos (...) O chamado “prazer da leitura”, tão proclamado nos discursos  e nas propagandas oficiais dos governos, permanece fora das salas de aula, como uma meta inatingível nos contextos escolares”(2003,p.19).
Pelo contrário, ler é interpretar mensagens escritas;  é o reconhecimento pronto de estruturas significativas, sua compreensão e integração cognitiva das mensagens ouvidas ou lidas.   
 A leitura é, pois, um processo complexo, ativo e centrado na compreensão da mensagem, no qual o leitor reconstrói o significado do texto, interagindo com ele. Para isto, é necessário trabalhar a organização da língua, através de estímulos multissensoriais, a fim de promover o desenvolvimento dos sentidos e favorecer uma percepção estética das experiências infantis, relacionando o que vê com o que se fala, nas situações mais comuns da sua vida. Isto deve acontecer nas atividades expressivas e em todas as oportunidades de linguagem oral, leitura e escrita, sempre partindo do próximo para o remoto, do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, ou seja seguindo as leis básicas da Psicologia da Aprendizagem. O aprendizado da leitura é, por isso, um momento importante na educação, que começa na alfabetização e se estende por toda educação básica. Ela é o resultado de um trabalho sistemático com a compreensão dos textos, bem como a estrutura das frases e das palavras.
Consiste em garantir que o aluno consiga ler e compreender textos, em todo e qualquer nível de complexidade. Depois da fase inicial da alfabetização, faz-se necessária a prática da leitura e da interpretação de textos, através de livros de literatura infantil e demais gêneros, pois uma vez alfabetizado, é possível ao individuo ampliar seu nível de leitura e de letramento, de forma a tornar-se um sujeito autônomo e consciente. A alfabetização é à base do desenvolvimento do cidadão e do seu progresso cognitivo social e humano.
COMO SE DÁ A LEITURA?
No ato de ler, há um trabalho especifico dos olhos, da mente e da emoção trabalhando juntos, assimilando a mensagem escrita.
De acordo com pesquisas neurobiológicas (FISHER, 2006), os olhos se movimentam ao longo da linha (da esquerda para a direita). Esse movimento se processa por saltos e pausas; é durante as pausas que se dá a leitura. Os olhos podem perceber grupos de letras e de palavras: há uma zona de percepção nítida na retina e uma zona periférica não muito clara, a zona de percepção nítida não é passível de desenvolvimento, mas a zona periférica, sim. Ao receber a mensagem captada pelos olhos e enviada ao centro cerebral , a mente interpreta com interferência da emoção. Assim, reconhece o significado das palavras nas estruturas apresentadas; identifica as ideias básicas e as relaciona entre si, percebendo e julgando as ideias do autor, integrando-as com experiências vividas e criando novas ideias. No Manual Experiências Criadoras, p.12, a autora Ieda Dias da Silva, mostra a complexidade do ato de ler.
“Olhos, mente e emoção  trabalham  em sintonia: a perturbação em um deles afeta o ritmo harmonioso da leitura. A mente busca unidades significativas de pensamento. Os olhos, portanto, devem estar aptos a apanhar unidades significativas de linguagem escrita, a fim de que a mente tenha matéria para interpretar e antecipar a zona periférica da retina (amplitude da visada: porção de texto abrangida pelos olhos, entre duas pausas de fixação) o que aumentará a velocidade da leitura”.
Muitas pausas ou movimentos regressivos, feitos pelo leitor acontecem porque encontrou palavras desconhecidas, ou porque adquiriu o hábito de ler por silabas ou fonemas, prejudicando o trabalho mental de interpretação das mensagens.
Para a autora, a vocalização durante a leitura silenciosa prejudica a compreensão, porque esta vocalização é mais demorada. Só a interiorização produz despertar da cadeia fônica e a leitura é mais rápida.  Daí a importância da leitura silenciosa preceder a leitura oral, com um trabalho metodológico, a partir de imagens, estruturas e palavras relacionadas ao mundo da criança, numa organização que associa o todo com as partes. Assim se formam conceitos de tempo, espaço, lugar, atributos, etc, necessários  na construção da lógica e da linguagem, produzindo novos textos e ampliando conceitos.
Tanto Vygotsky quanto os pesquisadores da neurociência confirmam que “a capacidade de movimentos corretos para leitura falta, em grande extensão, para a crianças entre 6 e 7 anos. Nessa idade, elas ainda estão no inicio de um desenvolvimento que deve se estender pelos próximos 10 anos” (FISHER, 2006).
Assim, o controle voluntário dos movimentos óticos, necessários à leitura silenciosa ou oral fluentes, precisa ser sistematicamente treinado, o que a prática da soletração não permite. Esta, não favorece a rapidez na leitura nem a sua compreensão. O professor precisa dar inúmeros exercícios para que a criança pronuncie, escreva e compreenda as palavras e as frases a partir das letras ou das sílabas. Há maior preocupação com a forma do que conteúdo, acarretando fracasso e insegurança nas crianças. A síntese mecânica contraria a atividade psicológica da criança, cujo psiquismo percebe primeiro a forma global para depois perceber as partes. Os processos sintéticos precisam sempre relacionar a letra, ou a sílaba a imagens e situações conhecidas da criança.

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COMO ENSINAR A LER?  

LEITURA ORAL E MEMÓRIA

    O trabalho de aprendizagem da leitura através de textos provocará inúmeras atividades de expressão oral e, portanto de audição. As atividades criadoras, parte integrante dos passos básicos da aula de leitura, são todas situações que irão influir, direta ou indiretamente, no campo da expressão oral.

As histórias, os poemas, as dramatizações serão fontes de enriquecimento de idéias, do vocabulário e de percepção de relações, além do estímulo da imaginação e da emoção. Destas atividades surgirão as composições das crianças que serão registradas pelo professor.
Quantas crianças que, depois da interpretação livre de uma música, dançam e expressam verdadeiras composições criadoras, verbalizando as emoções sentidas e deixando falar  a sua imaginação? E quantas que, não dominando a palavra, falam por meio dos dedos, no contato com a argila, ou no contato com a tinta na pintura? E estas mesmas crianças depois de se expressarem concretamente, são às vezes capazes de verbalizar o que fizeram.
Daí verifica-se a relação da dança, da pintura, dos recortes e da modelagem com a expressão oral.    
Por isso, segundo Ieda Dias, "a interpretação da gravura permite a criança deixar a experiência concreta e entrar no campo da simbolização - visualização da experiência, pelo desenho, e colocação dessa experiência colocando em palavras (linguagem oral)".
Ela verbaliza a experiência colocando em palavras as várias relações existentes entre as personagens, os objetos ou fatos. A percepção e compreensão das relações na interpretação da ilustração preparam o aluno para perceber e compreender a ação das personagens no texto.
            "Interpretação da leitura silenciosa - na  leitura silenciosa o aluno entra em contato com o símbolo escrito (lembre-se de que o símbolo escrito é representação do símbolo oral que já é, por sua vez, representação da realidade - daí dizer-se - que a leitura é abstração da abstração).
Ler, Falar e Ouvir
         A leitura silenciosa é um encontro interior profundo com a mensagem escrita. O leitor raciocina, avalia, julga as idéias, aceitando-as ou rejeitando-as. É trabalho intelectual e emocional.
         A leitura silenciosa visa, essencialmente, ao desenvolvimento das habilidades intelectuais. Por isso mesmo, ela é dirigida por perguntas que apelam para os diversos processos mentais. As perguntas variam conforme a natureza e as possibilidades do texto. “Há textos que favorecem á análise da causa e efeito, outras a exploração de detalhes, outros a apreciação de atitudes  ou julgamentos etc”.
            "Interpretação pela leitura oral -  a leitura oral  é o coroamento do trabalho da interpretação. O trabalho anterior, da interpretação da gravura e da leitura silenciosa, prepara o aluno para expressar em voz alta, com cadência e ritmos adequados as experiências transmitidas das pela leitura (a fluência e expressão estarão condicionados a automatismos, tais como: boa pronúncia, articulação correta, pausa ritmos a que serão adquiridos com exercícios para tal fim)".
A direção da interpretação da gravura será feita por meio de perguntas que ajudarão o aluno a perceber: 
·         Relações de distâncias, posição e tamanho entre personagens e objetos, que revelam sentimentos entre os mesmos;
·         Sentimentos, emoções, reações pela expressão facial e movimentos corporais;
·         O tipo de ambiente pelos objetos, vegetação ou outros elementos;
·         Tempo, hora em que se passa a cena pela análise de relações de diversos elementos;
·         A influência das cores e do ritmo (pelos traços) na criação de suspense, humor e ação.
As perguntas deverão ser feitas de tal forma que sugiram respostas, mas levam o aluno a pensar, a refletir. Uma resposta descuidada será sempre seguida de outra pergunta que exija reflexão. E sempre o professor deverá fazer perguntas completas e exigir respostas completas também. Isto constituirá um exercício de fixação das expressões e palavras estudadas, respondendo às questões do método científico: o que? Como? Quem? Quando? Por quê? Para que? Com quem? Com que? Etc. 
Observe-se que esta direção de aprendizagem será difícil e até impossível na soletração (que predomina no momento) ou na silabação e também no método fônico, todos preocupados com a correspondência grafema - fonema e, não, com o significado das palavras e frases. 
Ora, estas mesmas crianças, depois de se expressarem "concretamente", são estimuladas a verbalizar o que fizeram, realizando um incipiente metacognição, ou seja, um pensar sobre o que se faz. Neste aspecto a criança estará passando do dialogo interior que geralmente acompanha as ações na fase pré-operatória (segundo Piaget), para a organização lógica do pensamento e a formação dos conceitos básicos. Aí estão as várias técnicas de se apresentar o vocabulário e a exploração da leitura e das histórias sempre dentro da sequência lógica dos fatos (princípio, meio e fim) constituindo uma totalidade em que toda palavra deverá estar dentro de estruturas e de situações significativas.
            Use sempre a pantomima, as situações concretas, as histórias, o objeto ou a gravura para que a palavra passe pelos sentidos. Diz Mauree Applegate, que as palavras precisam ser ouvidas, cheiradas, olhadas, experimentadas para que sejam apreendidas. Em outras palavras Applegate nos mostra a importância das percepções sensoriais na aquisição do vocabulário.
Ler e Escrever
Leitura e linguagem escrita aparecem ao mesmo tempo. A afirmação feita anteriormente de que a criança caminha mais devagar na aquisição da escrita, foi no sentido do uso deste instrumento pelo aluno. Desde o período de prontidão - a preparação psicomotora da alfabetização - quando o professor escreve o nome do aluno no quadro, ele está usando a linguagem escrita e a leitura. Quando o professor elabora legenda e avisos para os diversos "cantinhos e objetos da sala" e a criança curiosa lhe pergunta: "O que mesmo está escrito aqui? E o professor lhe diz, ela vai relacionando palavras com sua imagem escrita. Ela vai percebendo que a escrita é uma forma de falar, de comunicar idéias e que a leitura é outra forma de receber, de compreender o que alguém escreveu. Desta forma a leitura e a linguagem escrita aparecem juntas como consequência de um programa rico de situações naturais de comunicação. E desta forma, as crianças irão perceber o real sentido de ler e do escrever.
A criança observa, convive com a escrita, mas não faz uso dela, ainda. Vai usar a linguagem escrita mais tarde, porque o seu uso exige outros instrumentos: 
A Escrita: (traçado ou desenho das letras que pressupõem desenvolvimento viso-motor, e a coordenação motora fina / imobilidade corporal), além da lateralidade.
A Ortografia(escolha certa da letra para representar determinado som, o que pressupõe relações áudio-viso-motoras; realizadas nos exercícios de ortografia, criticados pelo "construtivismo" mas essenciais na aquisição dos automatismos básicos da escrita. Esses "treinos" devem ser realizados sempre a partir de estruturas, com estudo para identificação e fixação progressiva das palavras - chave. Esse é um trabalho metodológico imprescindível que não é compatível com o "construtivismo" e com o letramento do modo como é entendido.
Assim, nessas décadas de "desmetodização" (quando os métodos de alfabetização foram abolidos), os professores não sabem como ensinar a ler e escrever, porque não há uma orientação metodológica para isso, pois que é considerada retrógrada e desnecessária.
 No nosso entender, aí está a causa de os alunos escreverem como falam, sem regra ou qualquer referência nos automatismos da Língua Portuguesa. Entretanto, é isto que a criança e o adolescente têm o direito de dominar: o conhecimento e uso da língua materna, na sua modalidade culta, com competência, correção e beleza.
Quando os parâmetros de correção do ENEM são rebaixados e predomina a avaliação qualitativa em todos os níveis de ensino, provavelmente isto ocorre pelo lamentável empobrecimento no ensino da língua e a falta do conhecimento e uso das regras, necessários em qualquer idioma. Eis aqui a fábrica dos analfabetos funcionais - os que não sabem escrever um pequeno texto nem interpretá-lo ou transmiti-lo a outros embora muitos já sejam diplomados! 
A Gramática: esta será dada pelo convívio das estruturas da língua, nas diversas situações, especialmente no material de leitura na organização lógica do pensamento. As respostas dos alunos na exploração das gravuras, nas vivências da leitura silenciosa ou oral são oportunidades para expressão correta do pensamento, com frases completas e com sentido. 
O domínio básico da gramática significará aquisição efetiva dos automatismos da língua que deverão ser ampliados na pós alfabetização;  aperfeiçoados e aprofundados nas demais séries do Ensino Básico. 
Eis, o que precisa acontecer, segundo o Programa  de alfabetização na   Idade Certa (PRONAIC) para que o país se desenvolva com uma Educação de qualidade... Uma meta difícil numa alfabetização sem método e sem caminho.
O que fazer?    
                                                                   Organização Maria de Lourdes Fioravante (Pitucha)








APRENDIZAGEM E GESTALT


As leis básicas da percepção foram estudadas como a Teoria da Forma que surgiu na Alemanha no início do século XX, como uma teoria dos conjuntos, da estrutura.

Defensores da Gestalt enfatizaram as configurações perceptuais como sendo as legítimas unidades mentais geradoras do conhecimento. De acordo com a teoria gestaltica não se pode ter conhecimento do todo por meio de suas partes e sim das partes pelo todo, pois o todo é maior que a soma das partes. Por exemplo, as letras R,O, S, A não constituem simplesmente letras nem a palavra rosa; elas evocam a imagem da flor, seu cheiro e simbolismo, ou outras propriedades que não estão relacionadas às letras. Elas criam uma forma, uma configuração e segundo essa perspectiva, se desenvolveria mediante reorganizações perceptuais em consonância com estruturas pré-formadas no indivíduo- provavelmente as áreas de linguagem do cérebro.
Para a Gestalt, a nossa percepção utiliza das qualidades formais, inerentes ao psiquismo humano, permitindo  a formação dos conceitos, dos objetos, das pessoas, das situações, etc., de acordo com a boa forma (Gestalt). Assim, para a formação da Gestalt, e para a neurociência, nosso cérebro sempre trabalha em rede, estabelecendo as relações todo/partes, através das conexões estabelecidas entre os neurônios pelas sinapses. Segundo o premio Nobel 2000 de medicina, Kandel” somos o produto das nossas sinapses (apud DOBBS, p.64)” e o neurocientista Helmut Luck, completa: “com isso, sabe-se hoje que a leitura é um processo integral e que a sequência de estágios das letras tomadas individualmente, passando pelas palavras, chegando até as sentenças inteiras pouco correspondem à percepção humana”(p.10). 

Pela Lei da pregnancia – nós tendemos a completar as formas, tanto nos objetos, desenhos, quanto nas palavras, frases ou textos, de acordo com a nossa experiência e as leis das semelhanças e diferenças. Na alfabetização e em qualquer recurso de aprendizagem o professor deve trabalhar sobretudo as semelhanças nas imagens, palavras, frases, etc e depois as diferenças. Assim haverá melhor assimilação e fixação da forma e do conteúdo. Pela relação figura-fundo é a percepção do elemento principal que se destaca em relação aos outros (secundários). Um estimulo que se torna figura é fortemente estruturado, dependendo dos fatores de agrupamento de semelhança, de proximidade e de boa forma. O que serve de fundo é bem menos estruturado. Porém existem situações em que dois oscilam e se misturam. Ex.: camuflagem do camaleão e de soldados como fardas mescladas. Por isso, no ensino deve ter sempre a figura bem definida, quer nos desenhos, textos ou conteúdos, assegurando a compreensão das relações todo / partes; principal / secundário; essencial / detalhe, o que construirá  as relações lógicas do pensamento – elementos básicos na aprendizagem.
Pela Lei da totalidade – Os estímulos ou coisas em maior proximidade espacial ou temporal e com características semelhantes tendem a ser percebidos como agrupados em um único todo. Ou seja, haverá maior fixação e compreensão quanto mais associações puderem ser feitas pelo aprendiz: o ensino deve partir sempre das semelhanças de forma, cor, tamanho, função, textura, finalidade, etc para chegar às diferenças. Segundo a neurociência, portanto, o nosso cérebro funciona sobretudo por associações e depois por diferenças: aprender é perceber relações, é reagir a situações totais significativas e não a elementos isolados; é ter insights (compreender as relações envolvidas na solução do problema). Isto só será possível se a situação de aprendizagem for organizada, em seus aspectos essenciais, de acordo com uma “boa forma”. Há, então, uma reestruturação constante da aprendizagem, de acordo com a maturidade do organismo e as condições do meio. Sobretudo nas quatro primeiras séries e na Educação Infantil, é preciso  estimular  o aluno estabelecer associações por semelhança e diferenças de cor, tamanho, quantidade, posição, direção, etc., além de relação de causa e efeito, sequência lógica , finalidade, duração e etc. Jamais a alfabetização pode ser realizada a partir da letra ou da sílaba, as  menores partes da língua e sem significado isoladamente: o ensino da leitura deve ser realizado sempre a partir do todo (imagem, palavra, frase ou texto), relacionando as partes e a outras linguagens de maneira metódica e regular.

Pretendo discutir a respeito dos métodos e técnicas de leitura ou dos materiais didáticos de alfabetização, na perspectiva da psicopedagogia. Apresento aqui como deveria se realizar o processo de apropriação da língua, estabelecendo as relações todo/partes, seja a partir da palavra, da frase ou do texto. Este trabalho deve partir sempre do mais simples  para o mais complexo; do próximo para o remoto, associando o texto e atividades a outras linguagens (vivências, figuras, gráficos, desenhos, diálogos. demonstrações, historias, etc.)  a outras situações semelhantes e produzindo novos conhecimentos. Exercitando sistematicamente o “prestar atenção” a semelhanças, diferenças, relações em  casa, na escola, com colegas, em situações diversas, a criança aprenderá a observar, registrar e contar o que viu, ouviu, fez, pensou, escreveu através de desenhos, diálogos, demonstrações, textos, composições, etc..
Progressivamente ela se apropriará da linguagem correta, internalizando e expressando o percebido, o compreendido e interpretado. Isto é o que é ser alfabetizado: ser capaz não apenas de ler e escrever um texto, mas  ser uma pessoa reflexiva e criativa que aceite mudanças com tranquilidade e segurança; que indague, questione, analise, observe, julgue e avalie. É  necessário, pois,  uma metodologia de alfabetização fundamentada, por um lado, na estruturação dos processos mentais e  auxiliem a criança  a fazer perguntas substanciais-  que levam aos conceitos básicos: o que, quem, como, quando, onde, etc
Por outro lado, propomos uma abordagem psicopedagógica estrutural da língua , estabelecendo sempre as relações entre o todo e as partes, de acordo com o nível de desenvolvimento da criança. Uma alfabetização fragmentada dos dias de hoje deverá ser substituída por uma alfabetização numa abordagem psicopedagógica estrutura – Método Estrutural -  em que as partes se relacionam e se estruturam, produzindo uma linguagem correta, bela e expressiva – a  apropriação da língua materna.
Por tudo isso, as decisões metodológicas relacionadas á alfabetização precisam considerar a organização estrutural da língua portuguesa e sistematizar o seu ensino, integrando as áreas de linguagem pelo uso de recursos perceptuais, motores e lúdicos, partindo de estruturas simples e, gradativamente, chegando aos textos, onde as palavras e termos adquirem vida e criam novos conceitos. É preciso que sejam produzidos e testados materiais didáticos sob a abordagem estrutural, o que a série “ Experiências Criadoras” apresenta e cujos resultados foram avaliados na dissertação de mestrado de FIORAVANTE, 1983.
Assim, o conhecimento e a integração de princípios teóricos e metodológicos  da alfabetização, bem como  e a socialização das experiências ou práticas de sucesso permitirão um diagnóstico e intervenção adequados no processo pedagógico, prevenindo, recuperando dificuldades ou estimulando talentos. Esse será o caminho para construir uma educação de qualidade, pois citando Neil Postman em SILVA (1981), “uma vez que tenhamos aprendido a fazer perguntas – perguntas substanciais, relevantes e apropriadas – teremos aprendido a aprender e ninguém nos impedirá de aprender o que quisermos ou precisarmos saber”.


Eis o desafio e direito das novas gerações!

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