O PROBLEMA DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL
“O Universo inteiro explica cada coisa a cada momento”... “Você não
pode tirar um átomo sequer deste mundo sem deslocar o Universo; tudo o que é, é
necessário”.
A Mãe – Ananda nº2,CASA Sri Aurobindo 1991.
O VAZIO DA ALFABETIZAÇÃO
A
realidade é preocupante: um levantamento do MEC revela que 20% dos brasileiros
são analfabetos. Diz ( LEAL,2006 pág 41 ): “Segundo um relatório da ONU (UNESCO)
divulgada em novembro de 2005 o Brasil tem o 7º contingente de analfabetos do
planeta”. Pesquisas recentes mostram que mais da metade dos alunos que terminam
as quatro primeiras séries tem dificuldades na leitura e na escrita. Notícias e
depoimentos nos meios de comunicação tem
apontado para a deficiência de candidatos (com primeiro grau completo e até
ensino médio) no mercado de trabalho que não conseguem escrever um pequeno
texto ou escrever palavras com irregularidades ortográficas. Pior ainda,
multiplicam-se os profissionais que não
entendem e nem conseguem acessar
informações ou atender solicitações pela internet: Uma secretária virtual não
conseguia contatar o Cônsul
brasileiro em Houston nos EUA por
solicitação do colunista Gustavo Ioschpe, argumentando: Sr. Gustavo procurei na Cônsul e até na Brastemp , mas
ninguém conhece este tal de Houston.
Em
2013, o ENEM considerou aceitáveis crassos erros ortográficos nas redações tais
como : “razoável com s” (rasoável); “ trouxe com 2 esses” (trousse);”enxergar
com ch”(enchergar).Estas redações receberam pontuação máxima com a
justificativa de um dos avaliadores explicando que se houvesse maior exigência,
ninguém seria aprovado”,. Ou seja, estão admitindo no ensino superior alunos analfabetos produzidos no ensino
básico, pois que, desde o final dos anos 90, o ensino de 1º grau esta
praticamente universalizado: quase 100%
das crianças e jovens nessa faixa escolar encontram-se matriculados .Entretanto
cada vez mais aumenta o numero de alunos defasados: estão cursando a 3ª, 4ª ou
5ª série e não sabem ler nem escrever; não compreendem nem interpretam um texto que muitos mal
decifram, porque trocam letras ou escrevem como falam.
Você
sabe por que isto acontece se são inúmeros os projetos de Biblioteca Escolar,
de incentivo á leitura em que o Poder Público entrega livros de literatura
visando criar hábitos em alunos que não sabem ler?!
Mesmo
as práticas de letramento – o ensino através dos diversos tipos de textos que
circulam na sociedade, na alfabetização
– não diminuíram as dificuldades de aprendizagem na leitura de crianças e
jovens que já estão sendo classificados
como portadores de distúrbios . Os chamados TDAH: os disléxicos; os
disortográficos e outros muitas vezes são até medicalizados sem considerar as possibilidades de estarem
relacionados a problemas psicopedagógicos decorrentes da falta de uma metodologia da
alfabetização adequada .
Ora,
para nós este é o X do problema: desde 1992 em todas as escolas do país
foi retirado o caminho para ensinar a ler;
consideraram os métodos de ensino ultrapassados e não houve nenhum trabalho de
substituí-los ou propor outros recursos diferentes. As cartilhas e pré-livros
foram atirados ao lixo como desnecessários e antiquados. E entraram modismos como o “ construtivismo,” que apenas constitui uma concepção pedagógica e, não, uma metodologia. O ensino da leitura tornou-se, então, aleatório , pois apesar
dos textos e poemas dos livros didáticos,
"o juntar" letras era uma das atividades mais trabalhadas, sem
desenvolver a leitura silenciosa, a compreensão e interpretação. ( Veja relatório de pesquisa: análise do livro didático de alfabetização - uma abordagem epistemológica).
E
ainda, a letra bastão, também fragmentada,
substituiu a letra manuscrita na alfabetização,dificultando mais tarde
o traçado da letra cursiva - mais contínua fluida e integradora dos circuitos
cerebrais. Além do mais, estão alfabetizando a partir dos 5 nos de idade, quando a
criança precisa de atividades motoras,
do brinquedo e do faz-de-conta que preparam para a abstração que a escrita
exige. Segundo o neuropsiquiatra e criador de um método para a reeducação da escrita , Julian Ajurriaguerra - para escrever, é preciso coordenação motora fina e ao mesmo tempo, a imobilidade do corpo, o que exige maturidade corporal grossa e fina que uma criança na pré-escola ainda não tem.
É
evidente ,pois,que desde cedo, aprender se
torna penoso e difícil. Aprender a ler bem, adquirir os conhecimentos básicos
para as séries seguintes tornam -se inacessíveis para muitos o que se configura para nós um verdadeiro estelionato dos direitos de um cidadão, que precisa
apropriar-se de sua língua e expressá-la com clareza, coerência e
criatividade . Esse é o nobre papel
inalienável de uma real alfabetização do nosso povo.
“Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe
aonde quer chegar .”
Mark Twain
Nós
consideramos que o ensino da leitura jamais poderá ser aleatório, nem cada
professor fazer o seu método : o ensino da língua, suas regras e sua estrutura
precisam ser sistematizados de forma competente e lógica de acordo com
princípios psicopedagógicos e
sociolinguísticos . É preciso uma organização didática consistente à luz
de princípios da psicologia da Aprendizagem e da metodologia de ensino. Não
basta utilizar a literatura na alfabetização como propõe Magda Soares( Guia da
Alfabetização, pág. 16) pois ,como atingir os objetivos centrais de compreensão
e interpretação e construção dos sentidos, dos textos, sem uma organização
metodológica das vivências , conversas e atividades que construam a lógica do
texto, de acordo com a história e a fase de desenvolvimento da criança.
Nossa
hipótese é que a Metodologia da Leitura precisa voltar a ser objeto de estudo e
aplicação nas escolas de modo a experimentar e selecionar materiais mais
adequados para ensinar a ler bem. Ao contrário o que tem acontecido segundo
(MACIEL, p59) “ desde os anos 80 as práticas de leitura se reduzem a atender as
turmas dos “pré-silábicos”, “silábicos” e “alfabéticos” (...) “este tipo de
encaminhamento pouco ou nada difere da
organização homogênea das turms, feita através de testes que foram
largamente criticados na década de 80”.
É preciso que o professor conheça e domine a metodologia da leitura baseada nas
concepções sociointeracionistas de Piaget e Vygotsk confirmadas pela Gestalt e
pela neurociência cujas pesquisas comprovam a importância da fase de 0 a 10
anos, quando a maturação e o desenvolvimento do cérebro estabelecem novas
conexões para e com a aprendizagem da
língua , quanto mais competente e organizado for o processo de ensino. Assim,
quanto melhor seja o domínio da língua melhor o pensamento se expressa pois segundo Vygotsk a linguagem é o instrumento do pensamento e o
pensamento se desenvolve pela linguagem. Num processo de construção do mais
simples ao mais complexo, do concreto ao
abstrato, do conhecido para o desconhecido e do próximo para o remoto em que a
aprendizagem estabelece no cérebro
conexões em rede cada mais amplas e refinadas. Por isso, se queremos um
povo educado, cognitivamente desenvolvido e capaz de produzir e participar do
bem estar individual e coletivo, todas as decisões sobre a alfabetização devem
tornar-se políticas públicas baseadas no uso de recursos para real valorização
do professor e a sua preparação metodológica para ensinar bem. E esse é um desafio que precisa acontecer já. Quem sabe o Programa da
Alfabetização na idade certa poderá ser um caminho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário