A desmetodização do ensino da leitura - a
quem interessa?
Todos
concordam sobre a importância do ensino e aprendizagem da leitura. È um momento
mágico de passagem para: ”... um mundo novo para o Estado e para o cidadão: o
mundo público da cultura letrada que instaura novas formas de relação dos
sujeitos entre si, com a natureza, com a história e com o próprio Estado. Um
mundo novo que instaura enfim novos modos de pensar, querer e agir” (Mortatti,
2006, pag19 apud Cruz, Simone Martins pag. 1. simonemartinscruzblogspot.com.
br).
Saber ler,
portanto, vai além da decodificação de símbolos ou mesmo produzir textos e
comunicar-se: é preciso dominar a língua, criando novas relações sociais e
novos modos de expressar-se através da escrita e de todos os modos de
comunicação, com competência, correção e beleza – a síntese do tornar-se
humano.
Por isso, a ALFABETIZAÇÃO,
o uso dos melhores meios para ensinar a ler e escrever deve fazer parte das
políticas publicas de um país – sobretudo o nosso que tem o privilégio de uma
só língua nacional.
Entretanto, o que se vê? Segundo MORTATTI,
2005 – citada por Simone Cruz (idem) em “A desmetodização da leitura e da
escrita”: decorridos mais de 100 anos desde a implantação em nosso país do
modelo republicano de escola, podemos observar que, desde essa época, o que
hoje denominamos” fracasso escolar na alfabetização” se vem impondo como
problema estratégico a demandar soluções urgentes e vem mobilizando
administradores públicos, legisladores do ensino e intelectuais de diferentes
áreas de conhecimento, os educadores e professores”.
Há décadas,
portanto, que a Alfabetização continua sendo o principal entrave para a
aprendizagem dos conteúdos mais elaborados e para a ascensão das classes
desfavorecidas que dependem da escola para usar bem a língua.
Ora, segundo
a neurociência, corroborada pelas teorias de Jean Piaget e Vygotsky, o ensino
competente da língua é fator essencial no desenvolvimento cognitivo e na
estruturação lógica do pensamento, pois o expressamos pela linguagem.
E perguntamos: como poderá isto acontecer, se
o professor não tem um caminho intencional para isto? Se mesmo antes da “desmetodização”
apesar dos materiais de alfabetização, eles eram usados aleatoriamente, por
ensaio e erro, buscando um caminho para evitar o fracasso na leitura?”
Foi o que
tentamos em Nova Era ao analisar e avaliar mais de 55 cartilhas e pré- livros
em cursos, Encontros e relatos registrados na dissertação de mestrado: - apresentada na FGV em 1983, sem verbas
especificas e contando apenas com a equipe pedagógica da 24ª SRE.
Para muitos professores e especialistas participantes,
era novidade o conhecimento da lógica e da teoria dos métodos de alfabetização:
a escolha e uso dos materiais de eram realizados sem orientação específica ou
treinamentos, a não ser os agendados regionalmente ou patrocinados pelas
editoras.
Conseqüentemente, os professores misturavam procedimentos de
diversos materiais para conseguir aprendizagem:” as famosas saladas” em que o
professor não consegue mais detectar os fatores que dificultam o aprendizado da
leitura e da escrita.
Nessa época, esses materiais já eram questionados:
“uma das maiores dificuldades dos professores eram relacionados à inadequação
dos materiais utilizados, geralmente desvinculados da realidade do aluno.” (FIORAVANTE,
“Trabalho Coletivo em Educação: Alfabetização – Carência ou Possibilidade? p.
100.)
Além disso,
nas análises dos livros didáticos e nos relatos dos professores, ficou
evidenciado que o trabalho era realizado mais intuitivamente, pois o professor
não dominava e até não conhecia a sequência metodológica e as ações pedagógicas
para corrigir os rumos do trabalho. ”Depois “inexplicavelmente” a criança não
era capaz de escrever ou de ler, nem tampouco compreender significados nem
interpretar, quando a leitura era avaliada“ (Idem p. 14)
Então o
professor não era capacitado para utilizar bem o material de alfabetização e
nem avaliar o seu trabalho. Nessa mesma época, diz a referida pesquisa: “o
Programa Oficial de Ensino (hoje os PCNs) não indica métodos nem os sugere. O
professor é “livre” ( grifo nosso) em sua sala de aula para, estudando todos os
fatores que influem na aprendizagem e, considerando principalmente a criança,
fazer as suas próprias escolhas.” (Minas Gerais – SEE - Programa de 1º Grau –
Comunicação e Expressão - BH, sem data- p.17.)
Há mais de 30 anos, portanto, o fracasso
escolar está presente nas turmas do ciclo básico, nas turmas de 6ª série;
(antigas 5ª série) – e as medidas tomadas – a “Progressão Continuada”; Promoção
Automática, os Projetos de Aceleração ou de recuperação da aprendizagem e
outras, apenas camuflam o problema. Continuam sendo aprovados alunos que chegam
ao Ensino Médio sem os conhecimentos básicos necessários, a que têm direito
como cidadãos, para seu desenvolvimento pessoal, profissional e social.
Agora que
foi exigida a formação universitária do professor, parecia que a questão estava
resolvida. Entretanto o Curso Normal Superior não aborda a metodologia com o
rigor necessário para que o professor pudesse adotar o melhor caminho.
No nosso entender é preciso urgentemente reavaliar o ensino
da leitura; analisar os melhores materiais existentes e elaborar com
especialistas e profissionais experientes as formas de alfabetizar com
competência. Isso significa dar ao
professor um ponto de partida e não receitas prontas para ensinar. É isto que os
professores perguntavam na década de ’90 depois que aboliram os métodos: “como
vou ensinar a ler se não há um caminho? Como vou saber se a criança sabe ou não
ler? Como vou atender as dificuldades ou aos problemas na aprendizagem, se não
há instrumentos ou critérios para fazer as intervenções necessárias? (MORTATTI,
2006 Os sentidos da alfabetização: p.266)
Ora, se os
“textos” das Cartilhas e pré-livros eram repetitivos, pobres e
desinteressantes, onde estão os trabalhos de pesquisas de avaliação que
apresentem os melhores materiais para ensinar a ler? Por que a alfabetização –
uma área tão importante no Ensino Básico - ficava à mercê das editoras e dos
que escrevem livros didáticos? Por que a formação de professores não abordava (e
nem aborda) o estudo competente dos métodos e dos materiais de alfabetização,
para compreender a sua lógica e aplicá-los corretamente?
Parece-nos
que não havia (como ainda não há) uma política pública de alfabetização, que
invista na pesquisa e na edição dos melhores materiais para ler, bem como na
formação consistente do professor, com integração da teoria e prática, através
de escolas e/ou turmas piloto para a avaliação desses materiais, de acordo com
a realidade das regiões. È preciso que haja
após a Graduação e mesmo os Cursos de Especialização e Mestrado, a modalidade
de Residência para esses professores, o que daria, sem dúvida, mais solidez à
formação teórico/prática dos profissionais do Ensino, tal como ocorre com os
médicos. NÃO VIRÁ LOGO O PRÉ-SAL COM 100% PARA A EDUCAÇÃO?
Ao mesmo
tempo, é necessário reorganizar a escola: menos alunos nas classes de alfabetização;
equipe pedagógica com profissionais capacitados para trabalhar com o professor,
dar assistência aos alunos, atender às dificuldades específicas de
aprendizagem, às questões de ajustamento do aluno e ainda na monitoria de
atividades pedagógicas, além da assistência social aos alunos e às suas
famílias.
Do jeito que
a escola está, é impossível uma GESTÃO ESCOLAR, em que o diretor e os
especialistas trabalhem com o professor para que ele ensine bem. Pensamos que é
necessário reinventar essa equipe
pedagógica: o supervisor, o orientador, o psicólogo escolar, o
psicopedagogo, o fonoaudiólogo e todos os que possam organizar e avaliar melhor
a aprendizagem. O professor não pode ficar sozinho, nem o especialista
tornar-se um inspetor de alunos... DINHEIRO PARA ISTO NÃO FALTARÁ, você não
acha?
Maria de
Lourdes Fioravante(Pitucha) Flávia Garcia
DESMETODIZAÇÃO II
SAEM OS MÉTODOS E ENTRAM “LETRAMENTO “CONSTRUTIVISMO”...
SAEM OS MÉTODOS E ENTRAM “LETRAMENTO “CONSTRUTIVISMO”...
“Um indivíduo alfabetizado não é, necessariamente
um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele individuo que sabe ler e escrever.
Já um indivíduo letrado, que vive em estado de letramento, é, não só aquele que
sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita,
pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas da leitura e
escrita” (SOARES, Magda-Letramento: Um tema em três gêneros).
Os
professores alfabetizadores ficaram desde os anos ’90 sem um instrumento
metodológico para ensinar a ler e escrever bem - a condição para o letramento –
como o texto de Magda Soares não deixa dúvidas. Ou seja, é preciso estar
alfabetizado para ler e escrever textos que circulam na sociedade, com
compreensão e senso crítico.
Assim, antes da década de ‘90, o fracasso na alfabetização era creditado aos materiais didáticos, “repetitivos”,” desinteressantes” e “pobres” e ainda aplicados aleatoriamente, de acordo com a criatividade do professor. Era necessário realizar uma “modernização” do ensino, começando pela alfabetização... Saíram os métodos e entraram o “construtivismo” e “letramento”. Este último, segundo Raquel Oliveira do Nascimento, “contribuiu ainda mais para um “apagamento” (grifo nosso) do conceito de alfabetização. Letrar veio, pois, substituir o alfabetizar – o primeiro entendido como o aprendizado da língua em situações de uso, em práticas sociais de leitura e escrita, através do contato direto com grande diversidade de gêneros, sem a necessidade de haver o ensino explícito do código. Idem p.5)
Assim, antes da década de ‘90, o fracasso na alfabetização era creditado aos materiais didáticos, “repetitivos”,” desinteressantes” e “pobres” e ainda aplicados aleatoriamente, de acordo com a criatividade do professor. Era necessário realizar uma “modernização” do ensino, começando pela alfabetização... Saíram os métodos e entraram o “construtivismo” e “letramento”. Este último, segundo Raquel Oliveira do Nascimento, “contribuiu ainda mais para um “apagamento” (grifo nosso) do conceito de alfabetização. Letrar veio, pois, substituir o alfabetizar – o primeiro entendido como o aprendizado da língua em situações de uso, em práticas sociais de leitura e escrita, através do contato direto com grande diversidade de gêneros, sem a necessidade de haver o ensino explícito do código. Idem p.5)
“Por outro lado surgiu o “construtivismo”- uma abordagem
teórica baseada nas teorias de Jean Piaget e Vygostsky e que não se constitui
num método de alfabetização, mas uma mudança de postura, significando.” O
deslocamento do foco de atenção do método para o processo realizado pelo
aprendiz, durante a aquisição da leitura” (ibidem p 4).
Instalou-se, pois, o
que chamamos de” vazio na alfabetização”,
sem avaliação alguma da situação do ensino da leitura, no uso dos métodos
existentes; da sua lógica nem a comprovação de seus resultados, falhas ou
sucessos nos diversos grupos e níveis de aprendizagem. Ou seja, o Estado, as
autoridades, os especialistas ficaram no discurso da substituição do ANTIGO
pelo “NOVO”. Era preciso modernizar a Educação, do mesmo modo como precisaria
modernizar o país... Não
foi isto que fez o governo Collor de Melo num pai pós- constituinte? Acabaram-se
as “carroças” (carros nacionais) e as “cartilhas” e os métodos para alfabetizar!
Interpretando
Aline Roberta Tacon Dambros, no artigo “A desmetodização do ensino da língua
materna e as redefinições educacionais na década de’80”, após a ditadura, o
período de redemocratização político-social se caracterizou por uma profunda
recessão e, daí, a imposição do econômico sobre o social e cultural. O
predomínio de interesses privados sobre o público, nos quais a EDUCAÇÃO passou
a ser um gasto e, não, um investimento.
Então, as verbas para a Educação Pública se restringiram e o setor educacional com mais recursos - as UNIVERSIDADES - passaram a ser, na maioria, instituições privadas (chegou a 88% o percentual de escolas superiores privadas e apenas 12% de universidades públicas.
Provavelmente a economia a ser feita incluiu o corte na edição de Cartilhas e Pré-livros ,os materiais mais demandados nas escolas, evidentemente pelo maior número de turmas de alfabetização, face á repetência e ao fracasso escolar. Por outro lado, esses materiais eram mais caros, pelas ilustrações, cartazes, fichas, etc. o que encarecia a impressão das cartilhas e pré-livros. Também a capacitação dos professores, que antes pelo menos tinham os manuais para se orientarem, foi reduzida ao acompanhamento dos Supervisores Escolares, responsáveis pela organização de materiais de apoio.
Então, as verbas para a Educação Pública se restringiram e o setor educacional com mais recursos - as UNIVERSIDADES - passaram a ser, na maioria, instituições privadas (chegou a 88% o percentual de escolas superiores privadas e apenas 12% de universidades públicas.
Provavelmente a economia a ser feita incluiu o corte na edição de Cartilhas e Pré-livros ,os materiais mais demandados nas escolas, evidentemente pelo maior número de turmas de alfabetização, face á repetência e ao fracasso escolar. Por outro lado, esses materiais eram mais caros, pelas ilustrações, cartazes, fichas, etc. o que encarecia a impressão das cartilhas e pré-livros. Também a capacitação dos professores, que antes pelo menos tinham os manuais para se orientarem, foi reduzida ao acompanhamento dos Supervisores Escolares, responsáveis pela organização de materiais de apoio.
Nesse
contexto de “modernização” e empobrecimento do professor e dos conteúdos, as
propostas do” construtivismo” e do “letramento” foram tratadas, contraditoriamente,
como formas de valorizar a autonomia do professor e trazer o mundo letrado para
a escola. O uso dos livros didáticos com diversos gêneros e tipos de textos bem
como o aumento das bibliotecas escolares, os projetos de incentivo à leitura, entretanto,
não resolveram o fracasso escolar, na alfabetização. Apenas mudaram de nome os
problemas e entraram outros profissionais para enfrentar as dificuldades de
aprendizagem. (vamos tratar do assunto mais adiante).
De
qualquer modo, a discussão sobre como superar o fracasso escolar passa a ser ,no
construtivismo, a questão de como a criança constrói a aprendizagem, o que na verdade,
se refere á organização da escrita.
Assim diz Aline (op.cit p.3): o construtivismo é uma teoria
que fornece “uma base para os estudos a cerca do desenvolvimento e da criança subsidiando
o desenrolar de um processo de ensino centrado na experiência do aluno” (NEGRÃO
2005 P.82). O construtivismo, pois, não constitui um método de leitura, mas “um
novo olhar’ para o processo de aquisição da leitura e da escrita (idemp.4) Nesse sentido, Emilia Ferreiro destaca a existência de duas dimensões
distintas da escrita. A1ª refere-se à
representação – código de transcrição gráfica das unidades sonoras.
A 2ª refere-se à codificação – transcrição das letras do alfabeto.
A 3ª – ela diz que “a construção da escrita acontece numa ordem sistematizada de representação e, posteriormente codificação da língua materna.
A escrita é, pois, a representação da linguagem e não um código de transcrição gráfica de unidades sonoras.
A 2ª refere-se à codificação – transcrição das letras do alfabeto.
A 3ª – ela diz que “a construção da escrita acontece numa ordem sistematizada de representação e, posteriormente codificação da língua materna.
A escrita é, pois, a representação da linguagem e não um código de transcrição gráfica de unidades sonoras.
Entretanto,
a construção do conhecimento - que é a alma do “construtivismo” - considera não
apenas o aspecto da escrita, mas” a criança como o sujeito ativo: aquele que
compara ordena , categoriza, comprova, reformula, elabora hipóteses, reorganiza
uma ação interiorizada ou efetiva”, segundo Emilia Ferreiro na obra Psicogênese
da Escrita. Tais processos cognitivos precisam, evidentemente, de uma
metodologia que organize pedagogicamente as estratégias de ensino e de
expressão desses processos.
Por
outro lado, os estudos da Neurociência confirmam, mais do que nunca, que o
professor deve utilizar recursos para estimular e integrar áreas diferentes do
cérebro, através de um trabalho pedagógico que coordene a psicomotricidade, os movimentos
viso-motores, as relações e os conceitos básicos necessários à aquisição da linguagem,
à compreensão de si e do mundo. (Ver cérebro e linguagem). Este é um programa mínimo
da Educação Infantil e que precisa ser fortalecido durante a alfabetização.
Ao contrário, entretanto, o “construtivismo” dá ênfase à
escrita, classificando os alunos por níveis no uso dos signos – “pré-silábicos,
silábicos e alfabéticos” – que dizem respeito ao diagnóstico da apreensão do
símbolo escrito e, não, ao desenvolvimento da criança bem como as condições psicomotoras
e cognitivas para ler. Esta ênfase na
escrita se observa desde a pré-escola, trazendo conseqüências devastadoras na
coordenação corporal necessária, pois a escrita exige uma perfeita sintonia
entre a imobilidade do corpo e a coordenação motora fina. Isto a criança não
tem amadurecida antes dos 7 anos. Além do mais, o tipo de letra bastão,
utilizada para facilitar os movimentos, em nossa opinião, acaba fragmentando os
movimentos, enquanto que a escrita cursiva exige movimentos circulares e contínuos
[Ver: Letra Bastão e a Alfabetização}. Tais habilidades não são naturais e nem
universais: elas são aprendidas e ainda dependem da coordenação viso-motora da
esquerda para a direita.
Sem atividades psicomotoras adequadas e ainda com a
tendência de “antecipação da alfabetização desde a pré-escola”, os problemas de
aprendizagem e da escrita poderão aumentar cada vez mais. (ver desmetodização
IV).
Além do mais, o construtivismo - utilizado na prática
pedagógica atual – na verdade expurga Piaget, as fases de desenvolvimento e a
importância da ação sistemática do professor para estimular o pensamento
infantil, por meio de perguntas e desafios, utilizando experiências no processo
de ensino.
Assim, Piaget não
propôs método de alfabetização, mas uma ação pedagógica baseada na
Epistemologia Genética, uma concepção estrutural da cognição cujo
desenvolvimento será tão melhor quanto mais as conexões forem estimuladas. È isto que a Neurociência tem corroborado,
pois que o cérebro funciona em rede e estas relações se tornam duradouras
quanto mais significativas (Ver CÉREBRO E LINGUAGEM/ NEURODIDÁTICA/ CÉREBRO E
APRENDIZAGEM).
No contexto da “modernização”, o Construtivismo trouxe a
alfabetização com textos de tipos diversos, nos livros didáticos, em lugar dos
métodos. Entretanto, o ponto de partida do trabalho pedagógico, apesar das
atividades lúdicas e criadoras, era a letra, o alfabeto, os métodos silábicos,
portanto, o que provavelmente está relacionado à classificação dos níveis de
escrita: pré-silábico, silábico e alfabético. Esses níveis substituíram
os “antigos” testes ABC, de Lourenço Filho que serviam para separar os
“imaturos”. Entretanto, para Francisca Isabel Maciel (...) esse níveis
constituem apenas outra forma de classificar os alunos,além de “desqualificar “ as atividades psicomotoras
adequadas à condições da alfabetização.
De um modo geral, a alfabetização continuava aleatória e os
métodos de leitura, na sua modalidade de soletração ou silábica, eram
utilizados pelos professores para conseguir resultados no trabalho. È isto que
verifiquei na análise de três livros didáticos e o seu uso numa escola
estadual. Os professores utilizavam as leituras das cartilhas para trabalhar as
palavras de uma poesia de Carlos Drummond de Andrade (Ver relatório Análise do
livro didático de alfabetização: uma abordagem Epistemológica).
O trabalho psicomotor, as atividades lúdicas, de linguagem
oral ou do faz-de-conta é feito também aleatoriamente e sempre em função da
“reescrita” do texto. O que observamos? O estudo do Construtivismo e as
contribuições de Piaget e Vygotsky
bem como a sua aplicação efetiva do trabalho pedagógico foram interpretados
como se as fases de desenvolvimento não
fossem relevantes e que “qualquer um aprende qualquer coisa em qualquer
época” eis uma falácia no nosso entender empobreceu mais ainda a formação do
professor, pois, os conteúdos da Psicologia da Aprendizagem e as Metodologias de Ensino enfatizavam,
sobretudo, o interacionismo e as relações sociais na aprendizagem.
Como desenvolver a linguagem oral, a leitura e a escrita com
compreensão, sem um trabalho baseado nas fases do desenvolvimento cognitivo da
criança e sem uma organização lógica do aprendizado da língua. (Ver texto: O
construtivismo e o ensino de conjuntos).
Dessa maneira ocorrem as trocas de letras, as omissões, os
erros de ortografia, sobretudo nas sílabas complexas mesmo com alunos que têm
acesso aos materiais impressos, a livro de literatura e, portanto, ao
letramento.
As medidas tais como “promoção automática dos Ciclos
Básicos”;” avaliações qualitativas”; a “progressão continuada”; a escola de
tempo integral ou ainda os inúmeros programas de incentivo à leitura podem ser
adequadas à permanência e ao contato diário com material de leitura. Entretanto
não substitui uma metodologia da leitura, pois como diz Magda Soares, (1999)
“Letramento é o resultado da ação de aprender a ler e escrever. È o estado ou a
condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de
apropriar da escrita (Letramento: um tema em 3 gêneros pag.18).
Também não bastam simplesmente as verbas para Educação, o
aumento de salários ou ainda melhores condições de trabalho: é preciso uma
intervenção no processo pedagógico! Diz Margarida Gomez Palacios: sem propostas
metodológicas claras, estamos correndo o risco de ampliar o fracasso escolar.
Segundo Magda Soares, é preciso “reinventar os métodos” que sejam capazes de
desenvolver a compreensão e a interpretação das palavras e das estruturas
lingüísticas, ao mesmo tempo que trabalham a decodificação correta dos signos.
Para isto, os profissionais de ensino devem ser melhor
qualificados teórica e praticamente, com a aplicação destes materiais e sua
avaliação, no sentido da eficiência e eficácia na leitura competente tanto na
escola como na vida social. As Escolas Experimentais, como parte da modalidade
de Residência para os profissionais do ensino organizados numa Equipe
Pedagógica necessária ao atendimento e prevenção dos problemas de aprendizagem,
poderiam constituir uma Política Publica e não, uma medida pontual como tem
acontecido nos Programas e campanhas.
Finalmente, a Educação Básica, sobretudo a alfabetização
precisa tornar-se um Fórum permanente de debates, propostas curriculares e
ações que produzam uma Educação de Qualidade.
DESMETODIZAÇÃO III
Os métodos... Sem método?
Nesses 20 anos, os alfabetizadores
ficaram sem um método de ensino da leitura e da escrita que, mesmo mal
conhecido ou mal utilizado, era uma sistematização que garantia a aquisição da
língua.
No nosso trabalho de pesquisa já referido, em Nova Era, verificamos que a parafernália de materiais e métodos com nomes diferentes muitas vezes eram utilizados sem treinamentos especifico ou por ensaio e erro. Assim o ensino da leitura continuava produzindo o próprio fracasso: descobrimos os métodos... Sem método.
Eis o relatório parcial, produzido em 1983, ”em busca das possíveis respostas, partimos da fala dos que vivem essa situação; dos que natural, sistemática e tacitamente são silenciados, como “incompetentes”, “incultos”, ou como capazes apenas de transmitir ou de receber conteúdos e normas já previamente reconhecidos como verdadeiros. Na prática cotidiana de uma Superintendência Regional de Ensino, aprendemos que é preciso incluir nesta discussão o professor e o especialista que lidam com modelos de aprendizagem para alunos que não existem no trabalho diário da escola.
A partir de encontros, reuniões e avaliações das visitas e sondagens junto às escolas, pudemos verificar, em primeira aproximação, a grande confusão metodológica quanto à organização da aprendizagem da leitura. Parecia haver forte correlação entre as causas da reprovação na 1ª serie e os processos de leitura. Que explicações dão os profissionais da escola para o fracasso na leitura? Que conhecimentos existem a respeito da prática da alfabetização e de seus fundamentos? Descobrimos, então, nas nucleações, visitas e encontros – tanto para os professores, quanto para os especialistas de escolas e da SRE – o desconhecimento dos aspectos fundamentais necessários ao desenvolvimento da compreensão, interpretação, sequência lógica e outros pré-requisitos das demais aprendizagens que exigem o domínio da linguagem escrita e falada. E presenciamos verdadeiros milagres em que o professor, a duras penas, precisava aprender e, rapidamente, a alfabetização de alunos “difíceis”, “fracos” e tão “carentes”, “que se leem, não escrevem, ou leem, mas não têm compreensão”.
Um problema de todos – desde as classes pré-escolares até o 2º grau-“ a leitura revela-se como poderoso, eficaz e inquestionável mecanismo de exclusão nas turmas de 1ª série” ... como esse mecanismo opera na escola de 1º grau ? Como o vivem os que, consciente ou inconscientemente vêem a alfabetização como uma aventura encantadora; porém penosa e frustrante”? (FIORAVANTE, 1983, Trabalho Coletivo em Educação: alfabetização – Carência ou possibilidade, in Relatório parcial).
No nosso trabalho de pesquisa já referido, em Nova Era, verificamos que a parafernália de materiais e métodos com nomes diferentes muitas vezes eram utilizados sem treinamentos especifico ou por ensaio e erro. Assim o ensino da leitura continuava produzindo o próprio fracasso: descobrimos os métodos... Sem método.
Eis o relatório parcial, produzido em 1983, ”em busca das possíveis respostas, partimos da fala dos que vivem essa situação; dos que natural, sistemática e tacitamente são silenciados, como “incompetentes”, “incultos”, ou como capazes apenas de transmitir ou de receber conteúdos e normas já previamente reconhecidos como verdadeiros. Na prática cotidiana de uma Superintendência Regional de Ensino, aprendemos que é preciso incluir nesta discussão o professor e o especialista que lidam com modelos de aprendizagem para alunos que não existem no trabalho diário da escola.
A partir de encontros, reuniões e avaliações das visitas e sondagens junto às escolas, pudemos verificar, em primeira aproximação, a grande confusão metodológica quanto à organização da aprendizagem da leitura. Parecia haver forte correlação entre as causas da reprovação na 1ª serie e os processos de leitura. Que explicações dão os profissionais da escola para o fracasso na leitura? Que conhecimentos existem a respeito da prática da alfabetização e de seus fundamentos? Descobrimos, então, nas nucleações, visitas e encontros – tanto para os professores, quanto para os especialistas de escolas e da SRE – o desconhecimento dos aspectos fundamentais necessários ao desenvolvimento da compreensão, interpretação, sequência lógica e outros pré-requisitos das demais aprendizagens que exigem o domínio da linguagem escrita e falada. E presenciamos verdadeiros milagres em que o professor, a duras penas, precisava aprender e, rapidamente, a alfabetização de alunos “difíceis”, “fracos” e tão “carentes”, “que se leem, não escrevem, ou leem, mas não têm compreensão”.
Um problema de todos – desde as classes pré-escolares até o 2º grau-“ a leitura revela-se como poderoso, eficaz e inquestionável mecanismo de exclusão nas turmas de 1ª série” ... como esse mecanismo opera na escola de 1º grau ? Como o vivem os que, consciente ou inconscientemente vêem a alfabetização como uma aventura encantadora; porém penosa e frustrante”? (FIORAVANTE, 1983, Trabalho Coletivo em Educação: alfabetização – Carência ou possibilidade, in Relatório parcial).
Considerando as mudanças nessas duas
décadas na organização das escolas, a quase universalização do Ensino Fundamental,
e ainda, a formação superior do professor, a referida pesquisa mostra que
infelizmente a deteriorização do ensino da leitura ainda persiste. O professor
continua sem conhecer as linhas metodológicas da alfabetização, pois que os
métodos foram abolidos, como se a “desmetodização” fosse solucionar o problema do fracasso
escolar. Pior ainda, os alfabetizadores foram expropriados de conhecer,
discutir e sugerir os meios de ensinar a ler, de acordo com as características
dos alunos, o seu desenvolvimento lógico e lingüístico, pois como diz Benito Damasceno,
2004, “a atividade mental é uma construção interna, medida por instrumentos e
signos, principalmente os da linguagem (A Mente Humana, revista UNICAMP).
Durante a pesquisa
participante de 1981 a 1983, produzimos coletivamente perguntas e respostas
sobre os “materiais de leitura utilizados, a sua sequência, organização e
dinâmica: se facilitam ou dificultam o desenvolvimento do pensamento reflexivo,
criador e crítico, como querem os elaboradores de currículos, de objetivos
educacionais e os próprios professores”.[ FIORAVANTE idem 83.] À essa época,
constatamos que os métodos de leitura eram utilizados... sem método. Ou seja,
descobrimos, segundo o relatório citado:
“1º) A aleatoriedade que caracteriza a escolha de uma metodologia de leitura, tarefa atribuída a professores, cuja situação funcional é instável (a maioria deles é contratada).
2º) A intensa mobilidade do professor na 1ª série – quase a metade dos professores tem no máximo, três anos de experiência na série, o que indicaria, quando menos,o fracionamento de sua ação pedagógica.
3º) A aprendizagem da leitura está fortemente relacionada com as condições (pré-requisitos) do aluno e com o domínio do processo pelo professor.
4º) Os materiais para desenvolvimento da leitura restringem-se geralmente ao uso do livro-texto, com baixa utilização da biblioteca, e de materiais elaborados pelo aluno
5º) A avaliação do processo de leitura constitui-se em grande dificuldade, pois para a maioria dos professores de 1ª série, os critérios de avaliação confundem-se com instrumento, forma e tipo de avaliação.
(6º) O atendimento às condições dos alunos e a maior capacitação do professor para ensinar a ler são os critérios básicos, do ponto de vista dos informantes, para os programas, métodos de ensino e livro didático.
(7º) A precariedade do ensino da leitura correlaciona-se fortemente à falta de materiais e metodologias de ensino adequado, bem como ao seu desconhecimento pelos professores e especialistas, pois quase a metade nem respondeu a respeito do nome do material utilizado. Atesta-se aí a inoperância dos cursos de Formação de Educadores: estes cada vez menos têm condições de dar respostas sobre o que mais faz a escola de 1º grau com as numerosas classes de1ªsérie.
(8º) O peso dos fatores extra-escolares (saúde, alimentação, condições socioeconômicas), potenciados ainda mais pela carência da escola e dos professores, configura a real pobreza de nossa Educação Fundamental. Finalmente, sentimos na prática que os professores responsáveis pela tarefa de tornar a criança o sujeito de sua aprendizagem, carecem, desde as condições mínimas de trabalho até as orientações, conteúdos e instrumentos para realizá-la. Assim, esse professor se organiza e coloca em prática mais ou menos conscientemente, as teorias dos métodos de leitura, utilizando recursos e experiências próprias, muitas vezes sem nenhuma orientação, de modo muito intuitivo, decorrente da necessidade de resolver sozinho o problema da alfabetização, afinal de contas, para ele, o uso do material é fruto da “criatividade” e da “escolha livre de cada um” (idem,Ibidem) (*) Nesses mais de 20 anos este quadro pouco se modificou, por quê? Os professores têm acesso à formação em Curso Superior, mas a mobilidade agora, no Ciclo Básico, continua, com centenas de atestados de saúde de professores estressados e doentes. Também há projetos e programas de incentivo à leitura e o uso da biblioteca. Entretanto o fracasso escolar continua e os transtornos e dificuldades de aprendizagem só aumentam (disgra fia, disortografia, dislalia, TDA/H e outros) e acabam sendo medicalizados, ao invés de buscar as causas na ação pedagógica, na falta de métodos com método. Nessa época, nos estudos e pesquisas que realizamos, com base na Epistemologia Genética de Piaget e nas contribuições de Gaston Mialaret, identificamos dois movimentos básicos nos métodos de leitura, à semelhança da abordagem do conhecimento cientifico. Ou seja, só há dois caminhos, duas linhas: a análise que parte do todo para as partes e a síntese que vai da parte para o todo. Pode haver variações na forma de abordar, mas, a lógica permanece. Nesse aspecto observamos que a bibliografia a respeito da abordagem Epistemológica da Leitura continua escassa. Provavelmente por isso, encontramos muitos trabalhos sobre a questão da alfabetização, mas há confusão na lógica dos métodos e mesmo na sua classificação.
Assim, o Método Global – uma variação na direção analítica – é tomado como outra linha. “Também “o Método Fônico – uma variação na linha sintética - é considerado” eclético” ou “misto”.Há trabalhos que denominam de global à categoria de analíticos ou que apresentam uma terceira categoria os métodos ecléticos que, na verdade, combinam os processos de análise e síntese o que qualquer método deve realizar, ou seja: partir do todo para as partes e voltar ao todo( texto).
“1º) A aleatoriedade que caracteriza a escolha de uma metodologia de leitura, tarefa atribuída a professores, cuja situação funcional é instável (a maioria deles é contratada).
2º) A intensa mobilidade do professor na 1ª série – quase a metade dos professores tem no máximo, três anos de experiência na série, o que indicaria, quando menos,o fracionamento de sua ação pedagógica.
3º) A aprendizagem da leitura está fortemente relacionada com as condições (pré-requisitos) do aluno e com o domínio do processo pelo professor.
4º) Os materiais para desenvolvimento da leitura restringem-se geralmente ao uso do livro-texto, com baixa utilização da biblioteca, e de materiais elaborados pelo aluno
5º) A avaliação do processo de leitura constitui-se em grande dificuldade, pois para a maioria dos professores de 1ª série, os critérios de avaliação confundem-se com instrumento, forma e tipo de avaliação.
(6º) O atendimento às condições dos alunos e a maior capacitação do professor para ensinar a ler são os critérios básicos, do ponto de vista dos informantes, para os programas, métodos de ensino e livro didático.
(7º) A precariedade do ensino da leitura correlaciona-se fortemente à falta de materiais e metodologias de ensino adequado, bem como ao seu desconhecimento pelos professores e especialistas, pois quase a metade nem respondeu a respeito do nome do material utilizado. Atesta-se aí a inoperância dos cursos de Formação de Educadores: estes cada vez menos têm condições de dar respostas sobre o que mais faz a escola de 1º grau com as numerosas classes de1ªsérie.
(8º) O peso dos fatores extra-escolares (saúde, alimentação, condições socioeconômicas), potenciados ainda mais pela carência da escola e dos professores, configura a real pobreza de nossa Educação Fundamental. Finalmente, sentimos na prática que os professores responsáveis pela tarefa de tornar a criança o sujeito de sua aprendizagem, carecem, desde as condições mínimas de trabalho até as orientações, conteúdos e instrumentos para realizá-la. Assim, esse professor se organiza e coloca em prática mais ou menos conscientemente, as teorias dos métodos de leitura, utilizando recursos e experiências próprias, muitas vezes sem nenhuma orientação, de modo muito intuitivo, decorrente da necessidade de resolver sozinho o problema da alfabetização, afinal de contas, para ele, o uso do material é fruto da “criatividade” e da “escolha livre de cada um” (idem,Ibidem) (*) Nesses mais de 20 anos este quadro pouco se modificou, por quê? Os professores têm acesso à formação em Curso Superior, mas a mobilidade agora, no Ciclo Básico, continua, com centenas de atestados de saúde de professores estressados e doentes. Também há projetos e programas de incentivo à leitura e o uso da biblioteca. Entretanto o fracasso escolar continua e os transtornos e dificuldades de aprendizagem só aumentam (disgra fia, disortografia, dislalia, TDA/H e outros) e acabam sendo medicalizados, ao invés de buscar as causas na ação pedagógica, na falta de métodos com método. Nessa época, nos estudos e pesquisas que realizamos, com base na Epistemologia Genética de Piaget e nas contribuições de Gaston Mialaret, identificamos dois movimentos básicos nos métodos de leitura, à semelhança da abordagem do conhecimento cientifico. Ou seja, só há dois caminhos, duas linhas: a análise que parte do todo para as partes e a síntese que vai da parte para o todo. Pode haver variações na forma de abordar, mas, a lógica permanece. Nesse aspecto observamos que a bibliografia a respeito da abordagem Epistemológica da Leitura continua escassa. Provavelmente por isso, encontramos muitos trabalhos sobre a questão da alfabetização, mas há confusão na lógica dos métodos e mesmo na sua classificação.
Assim, o Método Global – uma variação na direção analítica – é tomado como outra linha. “Também “o Método Fônico – uma variação na linha sintética - é considerado” eclético” ou “misto”.Há trabalhos que denominam de global à categoria de analíticos ou que apresentam uma terceira categoria os métodos ecléticos que, na verdade, combinam os processos de análise e síntese o que qualquer método deve realizar, ou seja: partir do todo para as partes e voltar ao todo( texto).
Nos materiais utilizados, muitos que
se denominavam ecléticos, começavam pela palavra e logo a silaba, sem trabalhar
as relações, à compreensão do sentido da palavra e esta no texto.Isso, também,
os métodos sintéticos devem fazer, pois a leitura e a escrita só têm sentido se
capacitarem o aluno a ler, entender, interpretar e elaborar textos, para depois
realizar com competência a leitura e produção de textos que circula na
sociedade. E o que acontecia?
Nos mais de
50 materiais de leitura analisados durante a pesquisa, encontramos “misturas” e
equívocos, com textos pobres, repetitivos e sem significação para a criança.
Talvez por isso, fossem limitados e criticados por especialistas. Vejamos tais
abordagens. (Ver: na Metodologia da Leitura, a lógica dos Métodos). Na alfabetização, portanto, os professores
acabavam utilizando estratégias e procedimentos de diversos materiais, por
ensaio e erro ou mesmo outras referências, para resolver as dificuldades dos
alunos, nas trocas de letras nas omissões e, sobretudo na compreensão da
leitura.
È interessante que, na história dos
métodos de leitura e, até hoje, não há estudos experimentais sobre qual
abordagem é mais eficiente, seja analítica
ou sintética, bem como as suas
variações.
Por exemplo,na cartilha“O Caminho
Suave”, mesmo partindo de um desenho ilustrativo, a ênfase não era a palavra – era a letra ou sílaba,
seja o “A” da Abelha; o “I” da Igreja; o “BA” de barriga etc.,
Então o material acabava sendo silábico,
da linha dos métodos sintéticos.
Também no método fônico e suas
variações (gestual –fonético e fonético), o uso de sons em histórias e figuras,
a lógica da alfabetização é trabalhar das partes para o todo – lógica dos
métodos sintéticos, do mesmo modo que os materiais alfabéticos, que partem das
letras para chegar ao texto. Eram materiais com textos pobres para fixar ou
avaliar os “sons” ou as “sílabas” ou as letras, mas havia uma ”intencionalidade”
e uma sequência de “passos”, atividades e exercícios que davam ao professor uma
referência em relação ao próprio trabalho e à aprendizagem do aluno. Eles
exigem memorização o tempo todo e produzem uma leitura escandida e lenta, pois,
a amplitude da visada e a compreensão do texto são prejudicados pelas pausas
artificiais na leitura: o objetivo central é fixar as partes da palavra. Pior ainda, isto era feito sem o conhecimento
da teoria e da aplicação do material – o que ficava por conta do professor, do
repasse de treinamentos pela Superintendência ou ainda orientações das
editoras. Na referida pesquisa de campo dentro da 24ª SRE: O Trabalho Coletivo
em Educação – alfabetização: Carência ou Possibilidade? Realizamos os estudos
da teoria e aplicação dos materiais, tanto na equipe da Superintendência quanto
nos encontros e treinamentos específicos nos 15 municípios da jurisdição,
envolvendo professores e especialistas. Estes profissionais apresentaram
relatos de experiência, sobre a alfabetização e as séries iniciais, durante os dois
Seminários realizados – I e II SAL, quando as discussões, oficinas e cursos
mostraram a realidade da alfabetização: o
esforço do professor trabalhando os métodos...
sem método. Ironicamente, o que se faz hoje, a não ser juntar letras, a partir de palavras e materiais do conhecimento da criança, para formar
frases e depois textos – no chamado “construtivismo” ou “ letramento”? NÃO HÁ MÉTODO...nem
Caminho.
DESMETODIZAÇÃO IV
( des)metodização do ensino da leitura: quem tem medo dos métodos?
Citando Margarida Gomes Palácios, o trabalho Construtivismo
: (des)metodização do Processo de alfabetização (PEREIRA,Juliana) afirma :”...
mas é preciso não ter medo do método: diante do assustador fracasso escolar, na
área da alfabetização e considerando as condições atuais de formação do
professor em nosso país, estamos sim, em busca
de
um método , tenhamos coragem de afirmá-lo. Mas de um método no conceito
verdadeiro deste termo: método que seja o resultado da determinação clara dos
objetivos definidores dos conceitos, habilidades, atitudes, que caracterizam a
pessoa alfabetizada, numa perspectiva psicológica,lingüística e também (e
talvez, sobretudo) social e política. Que seja ainda o resultado de paradigmas conceituais
(psicológico, lingüístico e pedagógico ) que trouxeram uma concepção dos
processos de aprendizagem da língua escrita pela criança,compreendendo esta
como um sujeito ativo que constrói o conhecimento e, não um ser passivo que a
responde a estímulos externos. Que seja, enfim, o resultado da definição de
ações, procedimentos e técnicas compatíveis com esses objetivos e com essa opção teórica”.
Desse ponto de vista, a metodologia da leitura
deve trazer um conjunto de procedimentos técnicas e processos que assegurem as habilidades, atitudes
e hábitos necessários à aquisição da língua
e seu uso competente. Então é necessário que
o
professor tenha conhecimentos teóricos e práticos a respeito do por que para
que e como ensinar a ler e o método constitui o meio
sistematizado ou formas de organizar processos que por si mesmos não
conseguiriam assegurar a eficiência
do processo. O melhor processo do ensino no entanto, é aquele que acompanha a dinâmica do
desenvolvimento infantil, as características da língua e seu uso como
comunicação e expressão de idéias, sentimentos e ações.
Conforme
Mialaret, o processo de aprender a ler é complexo e o resultado de diversas formas
psicológicas de ação e compreensão que se integram e se estruturam num todo coerente.
Saber ler envolve processos cognitivos, habilidades e hábitos através
dos quais o indivíduo seja capaz de decifrar (encontrar a sonorização do
sinal escrito) mas, também, e sobretudo: compreender
(traduzir em pensamentos, idéias, emoções e sentimentos um sinal gráfico. È
dispor de um novo meio de comunicação humana cada vez mais remota– o meio
essencial de aquisição de novos
conhecimentos e de participação na vida intelectual do mundo julgar (é saber ir além do símbolo impresso, distinguir o falso do verdadeiro: a leitura é inseparável da
formação do pensamento e do desenvolvimento do espírito critico,ultrapassando
as aparências de palavras ditas ou escritas. E,
ainda, é ter gosto pela leitura: é descobrir o prazer do
domínio dos livros – é tornar-se Homem.
Por isso, perguntamo-nos
durante
a pesquisa sobre os materiais de
alfabetização (FIORAVANTE´,1983) ” qualquer material de leitura produziria a
estruturação coerente do pensamento, a sua compreensão e sua utilização
criadora e organizada”? ( obra citada,pag.
4.). Verificamos aí que “... o
apossar-se da palavra, o seu manejo é condição de conhecimento, de
desvendamento desse real, de suas leis e da inserção social, política e
cultural, presentes nos objetivos e nos fins da educação e sociedade”. (idem),
A metodologia da leitura pois, “um
caminho para acesso aos bens da cultura e constitui por isso uma decisão
política, permitindo ou não que as camadas populares participem da elaboração
do conhecimento, de sua disseminação. (idem, ibidem). Estas discussões, realizadas
há mais de 20 anos atrás, reafirmam que é preciso desenvolver na fase da alfabetização um
trabalho regular e sistematizado de estratégias para
aquisição
e manutenção de
habilidades,
hábitos e atitudes para falar, ler e escrever com lógica e beleza. Não basta
pois conhecer as letras do alfabeto ou o nome para generalizar e assimilar as
regras de estruturação da língua. É preciso que esta organização seja
significativa, que respeite e estimule os interesses e o nível de
desenvolvimento cognitivo da criança para que seja progressivamente
desenvolvida e assimilada na linguagem oral, na leitura e na escrita, Então os
métodos analíticos apresentam o principio
metodológico que é corroborado pela Neurociência segundo a qual a linguagem se processa em
áreas diferentes do cérebro. (ver cérebro e linguagem), articuladas pela função semântica – o significado, o
sentido das palavras, frases ou situação ,o que resulta na organização lógica
do pensamento. Se a função semântica preside a
aprendizagem da língua, os procedimentos e a organização didática do ensino da
língua precisam partir de temas, situações
e
conceitos significativos para a criança – característica dos métodos analíticos
“primeiro vem o sentido e depois as palavras”.
Por que os métodos
analíticos?
Partindo do todo
(texto, história, sentença, estrutura ou palavra), os métodos analíticos
fundamentam-se no principio que a mente da criança é globalizadora – percebe o todo para depois
perceber detalhes cada vez menores e as suas relações. Nesse aspecto , nossa
pesquisa mostrou que o método estrutural
realiza , progressivamente a construção da lógica infantil, nos textos e nas
unidades trabalhadas com o fio condutor e a estruturação da linguagem oral,
leitura e escrita, como experimentamos na série Experiências Criadoras
Pré-livro Barquinho Amarelo de Iêda Dias da Silva. A exploração das gravuras,
das situações e das histórias vai construindo uma lógica que ,
segundo Piaget “não è inata na criança.
Ela é construída, à medida que amadurecem as estruturas cognitivas, desde o pensamento sensório-motor, o intuitivo,
para chegar as operações concretas e ao pensamento formal”(Por Onde Anda a
Educação, (pág 31 a 33. RJ – 2000).
Por isso, a alfabetização, geralmente realizada na fase de maior desenvolvimento
cognitivo e linguistico da criança,precisa realizar intencional e progressivamente as relações que formarão os conceitos básicos,ou seja:o que? Quem? Como?
Quando?,etc...
Há, pois, uma progressão que precisa ser conhecida e
respeitada pelo professor, desde a pré-escola, favorecendo e estimulando o
amadurecimento das estruturas
psicomotoras e lingüísticas. Isso significa que o trabalho de alfabetização
competente sempre deverá ser realizado pelo movimento pela fala. Pela música,
pelo canto, sempre visando a compreensão , a interpretação e a realização de
ações e interações na vida cotidiana. Nos estudos dos Métodos de Leitura,
verificamos que a lógica dos métodos analíticos e, dentre estes, o método estrutural facilita e estimula o processo de
aquisição da língua de modo prazeroso e competente. Por outro lado os métodos
sintéticos conseguem ensinar a ler mais como decodificação pois não atendem ao principio semântico da
aprendizagem da língua. (Vamos ver adiante a lógica dos métodos de
alfabetização).
Este é o desafio: trabalhar o método que realmente ensine a ler e que
garanta à classe trabalhadora a apropriação da sua língua. Quem tem medo disto?
Desmetodização V
Entra a letra bastão e sai a
psicomotricidade...?!!!!
“ Ajuriaguerra*, beneficiando-se da
contribuição Walloniana realizou com um grupo de colaboradores, uma minuciosa
investigação sobre a praxia da escrita, pondo a nu a sua complexidade t onico- postural de uma atividade que
requer, ao mesmo tempo, a imobilização do corpo e a movimentação rápida de
diferentes segmentos do corpo”.
Heloysa Dantas
in Piaget, Vigotsky e Wallon.p.40.
1-Introdução
A falta de método no ensino da leitura foi agravada pela
“dispensa” da preparação para a leitura e escrita, pois o uso da letra bastão, para muitos especialistas
seria mais fácil além de ser a mais encontrada nos jornais, livros , etc. Ou
seja,a criança deveria ser alfabetizada letrando: trabalho com textos e gêneros
que circulam na sociedade. E a apropriação da escrita;dos movimentos adequados
para escrever as letras nas palavras, e não
apenas reconhecer letras como tem sido?
É preocupante que , ao invés de
trabalhar as bases para a leitura e a escrita de modo que a criança se aproprie
dela, a alfabetização já se inicia na pré- escola, com a criança traçando
letras, sem compreensão, como se o contato com as letras produzisse a leitura,
a interpretação e a competência lingüística.
Assim produzem-se cada vez mais nas escolas os
distúrbios na aprendizagem da língua (
dislexia, legastenia, disortografia, etc) que estariam, no nosso entender,
relacionados à falta da psicomotricidade, na preparação para a leitura e ao uso
de uma letra fragmentada , cuja “facilidade” é questionável , pois a criança
aprenderá com facilidade o que ela compreender e gostar de fazer. ( Ver Cérebro
e Aprendizagem)
Ora, segundo especialistas e grandes
teóricos como Piaget, Wallon, Vigotsky , Luria
- confirmados pela NEUROCIÊNCIA - de 2 a 7 anos a criança vive a fase
privilegiada de maturação e desenvolvimento progressivos das coordenações básicas do ser humano. Este é o trabalho indispensável da Educação Infantil : o crescimento e
a coordenação corporal; o ritmo; o equilíbrio; o controle dos movimentos dos
pés , das mãos e dos olhos bem como a
sistematização das percepções ( visual, auditiva, tátil, olfativa , etc. são
essenciais para a criança situar-se no espaço e no tempo. Então, é preciso um programa de Educação
Psicomotora que trabalhe sistematizadamente
as atividades corporais, o jogo,
os movimentos, brincadeiras e danças que desenvolvam a lateralidade, a
coordenação corpo/membros, as posições e
as percepções de si, dos objetos e
destes entre si. Neste programa a criança estará vivenciando os conceitos
básicos de classificação, por
semelhanças e depois, por diferenças. Manipulando objetos, construindo coisas,
lugares , pessoas e falando sobre elas a criança vai construindo também as
noções dos atributos de tamanho, posição, cores, finalidade, lugar, direção,
tempo, posse – necessários na organização lógica do pensamento.
Como isso será possível, se desde os
4 anos de idade a criança já aprende a traçar as letras, escrever o nome ou
fazer jogos e brincadeiras para fixá-las?
Ora,de acordo com a classificação de Jean
Piaget, nesta fase denominada pré-operatória, o pensamento da criança se assenta nas ações
concretas do período anterior ( o
sensório-motor), para interiorizá-las e expressá-las, pela imaginação, o faz-de-conta, as músicas, rimas, etc- os instrumentos privilegiados do
pensamento e das percepções de si e do mundo. É a fase dos por quês quando a
criança procura encontrar as conexões entre os fenômenos, as pessoas, os
sentimentos, as situações, sempre a partir de si mesma e de suas necessidades.(
ver Formação de conceitos e Cérebro e Aprendizagem. blog:educlivreprogresso.blogspot.com.br
Então as histórias, as músicas, a
dramatização, os brinquedos e brincadeiras são meios de realizar tais conexões e passar do concreto para a sua representação na
fala, no desenho, na dramatização, na música, etc. Assim se preparam os registros do que a criança vê, pensa e
sente – as categorias básicas do pensamento lógico: o quê? Quem? Por quê? Como? Quando? Onde? Para quê? Etc.
Eis o que as classes da pré-escola
devem realizar, avaliando sempre os aspectos psicomotores que precisam ser
desenvolvidos ou modificados, ao invés de medicalizar as crianças chamadas
hiperativas ou com déficit de atenção .
Por isso, até os 6 / 7 anos, não faz sentido passar para a representação
abstrata ( a letra na alfabetização
e o numeral na Matemática ). A criança pode reconhecer
letras, números e até nomes, mas não é capaz de usar a escrita com consciência
nem tem controle motor, para estabelecer equilíbrio entre os movimentos de
coordenação motora fina dos dedos, a coordenação óculo-manual e ,ao mesmo
tempo, manter a imobilidade do corpo, (
Ver Yves De La Taille – na obra Piaget,Vigotsky e Wallon).
(*)
Apresentamos, ao final dos textos o método de reeducação da escrita elaborado
pelo educador espanhol Ajuriaguerra , segundo o qual o exercício e o
desenvolvimento motor são fatores determinantes no aprendizado da escrita
(Adriana Perris – adperris@tin.it)
2 – A letra bastão X letra manuscrita
X cursiva
“A letra cursiva ajuda a criança a
compreender melhor o significado”
Maria Helena de Moura Naves – UNESP *
Se na fase pré-operatória, a criança ainda não tem a
motricidade necessária para traçar letras, seja bastão ou cursiva, ela precisa
de atividades psicomotoras do desenho, da pintura, da colagem, escultura etc
para exercitar a coordenação motora fina e ainda de um tipo de letra
intermediário entre a letra de imprensa e a letra cursiva – a letra manuscrita.
. Por isso, nas turmas da pré-escola e mesmo na alfabetização,
o professor deve organizar atividades intermediárias entre a representação pictórica e a escrita, por
meio de exercícios de completar, seguir linhas em movimentos circulares, retos
ou quebrados, ondulares, sempre começando da esquerda para a direita – o
movimento da leitura alfabética. O uso da música, do ritmo contribui na fixação
dos movimentos, na sua manutenção e ainda
no prazer da aprendizagem, estimulando
o interesse pelo ensino da língua e pela organização do pensamento e sua expressão, a partir das conversas,
rodinhas, das atividades de vida diária, etc.
Eis a direção básica na educação Infantil e na Alfabetização,
pois a escrita alfabética é um arbitrário cultural e precisa de preparação
psicomotora para realizar os movimentos adequados e com consciência,
estabelecendo as conexões cerebrais entre as áreas de linguagem ( Ver Cérebro e
Aprendizagem) È o que não ocorre no uso da letra bastão, cujo traçado é
fragmentado, e preocupa-se apenas com reconhecimento das letras nas palavras sem trabalhar a compreensão delas.
Surgem
então, os distúrbios na aprendizagem da
língua, tais como a dislexia (
dificuldade para compreender e reter o que leu); e legastenia em que a criança escreve como fala, sem separar as
palavras ou ainda a disortografia(
dificuldades de usar a letra certa para
escrever, principalmente nos casos de irregularidades da língua.
Nesse
sentido, a escola está cada vez mais produzindo analfabetos funcionais –
crianças e jovens que lêem ou escrevem sem compreensão. (Ver O Problema da Alfabetização no Brasil)
educlivreprogresso.blogspot.com.br
Apresentamos aqui os fundamentos do uso da letra manuscrita que
foi alijada da alfabetização junto com os métodos de leitura. Conforme a autora
da série “ Experiências Criadoras” – Ieda Dias da silva- a letra manuscrita
facilita a leitura e os movimentos para o traçado e fixação correta das palavras.
De acordo com a Psicologia da Aprendizagem e
as leis que regem a boa forma , a Gestalt , diz que é mais fácil
reconhecer o que mais parecido, o que é semelhante para generalizá-lo por
associação. ( Ver Aprendizagem e
Gestalt).
Também a
memória motora fixa melhor os movimentos interligados do que os movimentos
fragmentados, pois que o cérebro
funciona em rede e, quanto mais estimulação nas conexões, mais duradoura a
aprendizagem.
O que acontece? Nas turmas de alfabetização, o
uso da letra bastão tem o argumento não
comprovado de que os movimentos são “mais fáceis” ;” há mais liberdade no ato
da escrita” ou ainda “ são menos exigentes que a cursiva” pois “ são mais
simples no traçado” e , aparentemente, se fixam melhor porque são ” as mais
vistas no ambiente letrado”... esses argumentos aparecem nos materiais de
alfabetização, nos livros , textos e blogs que insistem na superioridade da
letra bastão.
Pelo contrário, a letra bastão: 1º) dificulta o
reconhecimento das palavras e sua
escrita, pois não há ligação natural entre a letra bastão e a letra cursiva.
Esta é feita de curvas e letras interligadas, enquanto que a letra bastão é
fragmentada e de configuração difícil de ser diferenciada, pois geralmente é
utilizada a letra bastão maiúscula e a
criança não aprende as diferenças de
configuração entre letras maiúsculas e minúsculas numa palavra ou num texto. Como a criança poderá desenvolver habilidades
e automatismos de identificação, fixação
e reconhecimento das palavras, do seu sentido e sua escrita, se o tempo é gasto na decodificação de letras, sílabas e
palavras, geralmente soletrando ou escandindo sílabas? No exemplo: GATO (maiúscula) tem a mesma
configuração de PAPAI. O que não
acontece nas mesmas palavras minúsculas:
gato tem hastes para baixo (g) e para cima( t ); papai tem as hastes para baixo (p). È preciso todo um trabalho de
discriminação auditiva e visual para que essas diferenças sejam automatizadas:
a letra manuscrita facilita este trabalho, pois, o traçado das letras
maiúsculas e minúsculas se aproxima da letra bastão e da cursiva, fixando desde
o início as diferenças entre as modalidades, nos cartazes, recados, avisos
etc.
2º) A letra bastão dificulta a leitura e escrita dos textos, pois a
modalidade maiúscula da letra prejudica a pontuação e a compreensão da
construção das frases: porque não há
diferença no traçado das palavras na frase e no inicio de cada uma – são todas maiúsculas. Isto impede a
leitura fluente e compreensiva, além de prejudicar a antecipação de idéias, a
generalização e a sequência lógica
necessárias à formação do pensamento. E ainda mais para evitar que a criança
escreva sem separar as palavra ou escrever como fala, o professor precisa recorrer ao artifício absurdo de colorir entre as palavras para que a criança
perceba as diferenças que a letra bastão não dá. Ora, considerando que a
alfabetização é uma fase que lança as bases do ler e escrever bem, é necessário utilizar
procedimentos e recursos que tornem a escrita a consolidação de todo o
processo. A capacidade de escrever e expressar suas idéias com independência, clareza
e competência – o direito de todo cidadão - constituirá a alfabetização como letramento,
ou seja, como ato cultural e transformador.
Perguntamos: você acha que a criança
deve ser alfabetizada com a letra bastão? Veja outras opiniões, discuta e decida
.“ a
letra cursiva desenvolve a atenção e a fixação do conteúdo(...) a coordenação
motora fina e a definição da lateralidade”.
Claúdio Moreno – Pós- doutor e prof. de Português
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